Brasil dobra produção de medicamento contra Chagas
País atende à solicitação de organismos de cooperação multilateral. O produto mostrou-se eficaz na fase crônica da doença e para pacientes assintomáticos
O Brasil vai mais do que dobrar a produção do medicamento para doença de Chagas, o Benzonidazol. A medida foi adotada a partir de novas demandas de organismos de cooperação internacional. A solicitação, discutida nesta semana, atenderá pacientes da Bolívia, Colômbia, Venezuela, Argentina, Paraguai e Uruguai. Está prevista a entrega de 3.425.000 comprimidos até 31 de dezembro. O país é o único fabricante mundial do produto.
”O Brasil vai atender toda a demanda da OPAs/OMS por medicamentos para Chagas. Queremos participar do esforço mundial em ampliar o acesso a saúde”, anunciou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS). O evento ocorre no Rio de Janeiro, até sexta-feira (21).
O ministro explicou que esta capacidade de atendimento foi resultado de uma articulação do Ministério da Saúde com os laboratórios produtores Lafepe e Nortec, juntamente com a Anvisa. “O Brasil foi o único país que assumiu o desafio de produzir um medicamento negligenciado, de tecnologia complexa”, disse Padilha.
A demanda sobre o produto cresceu 113% em relação à projeção inicialmente realizada pela Organização Panamericana de Saúde (Opas) e o Drugs for Neglected Deseases Initiative (DNDI). Passou de 1,5 milhão de comprimidos para 3,2 milhões – deste total, 1 milhão de comprimidos será para estoque estratégico.
“O significativo aumento da demanda global se deve ao resultado de pesquisas que comprovaram que o medicamento beneficia não só pacientes na fase aguda, mas também pacientes assintomáticos e na fase crônica”, explicou o secretário de Ciência, Tecnologia e Assuntos Estratégicos, Carlos Gadelha.
A partir deste crescimento, o cronograma de produção foi redefinido. De imediato, 225 mil comprimidos serão liberados para o Médicos Sem Fronteiras, para atender os casos mais urgentes. O medicamento será remanejado do estoque estratégico do Ministério da Saúde e do Lafepe. Mais 200 mil comprimidos serão entregues até o final de novembro. Em 15 de dezembro, serão disponibilizados 1 milhão de comprimidos. E outros 2 milhões de comprimidos serão entregues em 30 de dezembro.
COMPROMETIMENTO – A condição de único produtor mundial do Benzonidazol foi assumida pelo Brasil no início de 2008, quando o laboratório público Lafepe adquiriu o estoque de matéria-prima da Roche, que parou de fabricar o medicamento. Neste ano, o Ministério da Saúde articulou uma parceria público privada, que integrou o laboratório Nortec na produção da matéria-prima e o seu beneficiamento pelo Lafepe.
O envio para outros países que necessitam do produto é feito a partir da OPAS e do Médicos Sem Fronteiras, de acordo com a demanda de cada localidade. Internamente, a distribuição é feita pelo ministério conforme a solicitação dos Estados.
A DOENÇA – A doença de Chagas é uma doença infecciosa febril causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que se adquire por meio do contato direto com as fezes do inseto conhecido como ”barbeiro”. No Brasil, a transmissão vetorial (pelo inseto) domiciliar foi interrompida, mas predominam os casos crônicos. Estima-se que existam entre dois e três milhões de indivíduos infectados. A ocorrência de doença de Chagas aguda (DCA) no país tem sido observada principalmente em decorrência da transmissão oral, por meio de alimentos contaminados.
A doença está presente especialmente na América Latina. De acordo com relatório da OMS de 2007, nos 21 países endêmicos haviam aproximadamente 8 milhões de pessoas infectadas, o que representa uma redução de 50% em relação aos índices de 1990.
Os principais sintomas da fase aguda da doença são: febre prolongada (mais de 7 dias), dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas. Especialmente quando a transmissão é oral, são comuns dor de estômago, vômitos e diarréia. Devido à inflamação no coração, pode ocorrer falta de ar intensa, tosse e acúmulo de água no coração e pulmão. No local da entrada do parasita, normalmente a picada do barbeiro, em geral aparece lesão semelhante a furúnculo no local, conhecido como chagoma de inoculação.
FONTE: Ministério da Saúde
http://www.saude.gov.br/