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Brasil falha em prevenção

Apesar do grande número de mamógrafos no País, a rede pública não consegue diagnosticar a doença

Brasília A estratégia do Ministério da Saúde para prevenir o câncer de mama, tipo de neoplasia que mais mata entre as mulheres, fracassa no Brasil, apesar da estrutura abundante para diagnosticar a doença. O Sistema Único de Saúde (SUS) tem hoje quase o dobro do número de mamógrafos necessário para detecção precoce de tumores. Mas só consegue atender 12% das mulheres entre 40 e 70 anos, faixa de idade na qual a mamografia é recomendada.

Segundo especialistas, a situação é resultado da concentração dos aparelhos em algumas áreas do país, em detrimento de outras, além da baixa produtividade e da inoperância de boa parte do aparato disponível.

Para cumprir o critério de um mamógrafo para cada grupo de 240 mil habitantes, definido em portaria do própria Pasta com base em parâmetro do Instituto Nacional do Câncer (Inca), seriam necessários 795 equipamentos na saúde pública. Uma auditoria do Departamento Nacional de Auditoria do SUS identificou 1.514 na rede.

Apesar da constatação, o SUS examinou, no ano passado, 3,4 milhões de mulheres. No País, são 28,5 milhões com idades entre 40 e 70 anos. Para elas, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) indica a realização do teste anualmente. O governo usa outro parâmetro – testes a cada dois anos, entre 50 e 69 anos – mas, mesmo assim, está longe de atingir a população dessa faixa (15,7 milhões).

Posta no mapa, a distribuição dos mamógrafos reproduz as desigualdades regionais.

Sozinho, o Sudeste, região mais rica e populosa, tem hoje mais aparelhos (669) que Norte, Nordeste e Centro-Oeste juntos (558). Uma disparidade que também se verifica em termos proporcionais. Estados como Minas, Rio Grande do Sul e Santa Catarina chegam a ter o dobro ou o triplo de aparelhos por cem mil habitantes que Rondônia, Maranhão, Ceará, Paraíba, Pará, Acre, Amapá e Roraima. Nos três últimos, apesar do extenso território, todos os mamógrafos ficam na capital. Maior estado do País, com imensas dificuldades de deslocamento, o Amazonas tem 83% da estrutura de diagnóstico concentrados em Manaus.

“Não precisamos de mais aparelhos, precisamos pulverizá-los e usá-los”, resumiu o presidente da SBM, Carlos Alberto Ruiz, citando um outro mal nacional: a improdutividade dos equipamentos.

Dos 1.514 mamógrafos do SUS, 15% estão parados, em alguns casos com defeito ou guardados na caixa. Os demais não produzem a quantidade de exames que poderiam. Conforme a auditoria, quase um quinto das máquinas fica ociosa no período da tarde.

A atividade é prejudicada pela falta de manutenção, profissionais para operar as máquinas e insumos básicos, além de problemas na infraestrutura do local do exame. Nada menos que 150 aparelhos funcionavam sem a presença de um radiologista e 89 não tinham técnico em radiologia. O número de mamógrafos que não passavam pela manutenção adequada chegava a 343.

Segundo o Inca, entre 1998 e 2008, as mortes passaram de 8.050 para 11.945. O Ministério reconhece que faltou planejamento no serviço, mas assegura que buscará cobrir os “vazios de assistência”.

FONTE: O Diário do Nordeste