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Para Não Esquecer

34 ANOS DO ACIDENTE COM O CÉSIO 137 EM GOIÂNIA

O International Uranium Film Festival do Rio de Janeiro lembra o maior acidente radiológico da América Latina que aconteceu em setembro de 1987.  De 13 a 19 de setembro de 2021, o festival vai exibir 8 filmes sobre este acidente que marca uma triste história do Brasil. Um encontro online com uma das vítimas do césio, Odesson Alves Ferreira, e cineastas convidados marcará a abertura desta mostra virtual.  O evento “Para Não Esquecer”, totalmente online e gratuito, conta com apoio da Cinemateca do MAM Rio. 

Em setembro de 1987, centenas de pessoas foram contaminadas com césio 137, proveniente de um aparelho de medicina nuclear, abandonado numa clínica de tratamento de câncer desativada. Apenas 19 gramas do césio 137 não só causaram sofrimento infinito às vítimas, mas também produziram mais de 6 mil toneladas de lixo radioativo, que ainda é perigoso por mais de 200 anos e deve ser armazenado cuidadosamente.
O césio 137 é um nuclídeo altamente radioativo e não natural. Ele é um produto da fissão do urânio-235 e criado quando as bombas atômicas explodem ou como lixo radioativo das usinas nucleares. O césio 137 foi usado por décadas na medicina nuclear para irradiar células de câncer. A meia-vida do césio 137 é de 30 anos. Por exemplo: de 20 gramas de césio 137, após 30 anos, sobrou metade da quantidade radioativa, ou seja,10 gramas. No total, levará 210 anos para chegar a 0,15 gramas de césio radioativo.

PROGRAMAÇÃO

Dia 13 de setembro, segunda-feira, 16h, abertura
ENCONTRO ONLINE „Para Não Esquecer“
A abertura da Mostra dos 34 anos do acidente radiológico em Goiânia será marcada com um encontro online com uma das vítimas do césio, Odesson Alves Ferreira (foto destaque) e com os cineastas Ângelo Lima, Benedito Ferreira e Michael Valim de Goiânia e a produtora baiana Laura Pires. Odesson é um dos fundadores da Associação Vítimas do Césio 137 em Goiânia (AVCésio). A sua família foi uma das mais afetadas pelo acidente. Laura Pires é produtora dos filmes „Césio 137. O Pesadelo de Goiânia“ (1989) de seu marido Roberto Pires (falecido em 2001) e do filme „Césio 137 – O Brilho da Morte“ (2003) de Luiz Eduardo Jorge (falecido em 2017). Moderação: Márcia Gomes de Oliveira, diretora do Uranium Film Festival.

OS FILMES ONLINE DE 13 A 19 DE SETEMBRO DE 2021

AMARELINHA 
Brasil, 2003, Direção e Roteiro Ângelo Lima, Ficção, 4 min – A primeira vítima do acidente radioativo, em Goiânia, com o césio-137, foi uma criança de 6 anos. Onde ficou os seus sonhos e brincadeiras? Leide das Neves não teve tempo para brincar.
O PESADELO É AZUL
Brasil, 2008, Direção Ângelo Lima, Documenário, 30 min – Em 1987, aconteceu em Goiânia um dos maiores acidentes radiológicos do mundo. As vítimas contam como foi e como estão vivendo. De quem foi a culpa deste acidente? O que o Governo está fazendo para amparar as vítimas que foram atingidas diretamente? Medo e silêncio tomam conta de uma cidade.
Ângelo Lima – Pernambucano de Recife, Ângelo Lima chegou em Goiás aos 8 anos, em 1959. Produtor, ator, fotógrafo e diretor, Ângelo Lima entrou oficialmente no mundo do cinema aos 16 anos. São quase 50 anos de carreira, 4 longas, 26 curtas-metragens e cerca de 40 prêmios em participações em mais de 280 festivais em todo o mundo. Premiado duas vezes no maior festival de cinema ambiental da América Latina, o FICA de Goiás, e recebeu o título de cidadão goianiense em 2014.  Foto de Bob Del Tredici: Ângelo Lima durante apresentação de „Amarelinha“ no Uranium Film Festival 2012, Auditório da Cinemateca do MAM Rio.
CÉSIO 137 – O BRILHO DA MORTE
 
Brasil, 2003, Direção Luiz Eduardo Jorge,  Produção Laura Pires, Documentário, 24 min – Curta-metragem brasileiro que mostra os efeitos de uma verdadeira tragédia na cidade de Goiânia, Brasil, em 1987, causada pelo elemento radioativo chamado césio 137. O filme aborda as consequências de quem foi exposto direta ou indiretamente pelo acidente radiológico e evidencia a falta de preparo daqueles que deveriam orientar formas de prevenção. Os relatos nos fazem refletir sobre o conhecimento técnico existente nos órgãos de fiscalização e controle para o caso de um acidente com material radioativo.
A falta de informação alimenta até hoje a estigmatização dos contaminados, que sobrevivem com extrema dificuldade, e dos moradores das áreas próximas ao local onde a fonte do aparelho radiológico foi violada num ferro velho. Melhor Curta Júri Popular do International Uranium Film Festival 2011.
Luiz Eduardo Jorge – Cineasta, escritor e professor. Licenciado em História pela Universidade Católica de Goiás, Mestre em Ciências da Comunicação e Doutor em Artes, ambas pela Universidade de São Paulo, com doutorado sanduíche em Antropologia Visual na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Marselha, França (1992/1993). Luiz Eduardo Jorge foi diretor de 18 filmes com temas sociais, históricos e culturais e Professor da Universidade Católica de Goiás. Como diretor, recebeu prêmios como Melhor Produção Goiana no FICA (2003), Menção Honrosa no 13º Videobrasil de São Paulo (2001).  Ele disse sobre si mesmo: “Eu nasci pouco antes da ditadura brasileira. Eu vivi a ditadura militar por vinte anos. A minha proposta para trabalhar com filme vem de um compromisso de militância política. Quero ser verdadeiro, eu trabalho com cinema verdade.“ O cineasta goiano Luiz Eduardo Jorge morreu de câncer, em 2017. 
CÉSIO 137. O PESADELO DE GOIÂNIA
Brasil, 1989, Direção Roberto Pires, Produção Executiva Laura Pires, Elenco Nelson Xavier, Joana Fomm, Paulo Betti, Denise Milfond e Stepan Nercessian, Ficção, 95 min – Uma cápsula de chumbo foi encontrada por catadores de sucata nos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia que estava desativado, na Cidade de Goiânia, capital de Goiás. A cápsula foi vendida para um ferro velho. Devair, dono do ferro velho, comprou a cápsula para aproveitar o chumbo e tentou abri-la, e descobriu que o material emitia uma luz azul à noite. A partir daí, passou a mostrar para amigos e familiares.
Era o césio-137 e deixou centenas de contaminados e um número desconhecido de mortos. Apenas quatro mortes foram constatadas oficialmente.  „Césio 137. O Pesadelo de Goiânia“ recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Natal e seis prêmios no Festival de Brasília, ambos em 1990 e Prêmio de Melhor Longa Juri Popular no International Uranium Film Festival Rio de Janeiro em 2011.
Roberto Pires:  Cineasta e Diretor, Roberto Pires nasceu em 1934, em Salvador, Bahia. Ele foi o primeiro cineasta brasileiro a pensar a temática nuclear, tendo o físico César Lattes como consultor técnico. Quando aconteceu o acidente com o césio 137, em Goiânia, em 1987, Roberto Pires estava morando em Brasília para buscar patrocínio para o seu próximo filme sobre a temática nuclear e partiu imediatamente para Goiânia.   Roberto Pires investigou o acidente e entrevistou sobreviventes.  Amigos e familiares atribuem a este trabalho em Goiânia como o agravamento, ou o surgimento, de um câncer no pescoço. O amor pelo cinema e a preocupação com a fidelidade aos fatos ofuscaram o perigo que havia no local. Após um longo período de sofrimento, Roberto Pires morreu de câncer, em junho de 2001.
TEM CÉSIO NO MEU SANGUE (Cesium I Blodet)
Suécia / Brasil, 2009, Direção Lars Westman, Co-Produção Zenildo Barreto. Documentário, 70 min, Português / Sueco com legendas em português – Um documento incomparável da história sobre o mais grave acidente radioativo da América Latina e sobre o trabalho de sua limpeza. Em setembro de 1987, 19 gramas de césio-137 radioativo, proveniente de uma unidade de tratamento de câncer desativada, na cidade de Goiânia, prejudicaram e contaminaram centenas de pessoas e produziram 6 mil toneladas de lixo nuclear. O jornalista, que chegou à Goiânia logo após o reconhecimento oficial do acidente radioativo, reuniu imagens impressionantes dos trabalhos de descontaminação e das vítimas. Ele reencontrou os entrevistados duas vezes após as primeiras gravações, em 1990 e 2000. Um dos entrevistados, Ivo Alves Ferreira, morreu dias depois da última gravação. O filme ficou pronto em 2009.
Lars Westman nasceu em 27 de setembro de 1938, em Östersund, na Suécia. Estudou Arte na Universidade de Estocolmo (1963) e frequentou a escola de produção da televisão sueca (1969). Por quase 50 anos, trabalhou principalmente para a televisão escandinava. Mais de 280 de seus filmes foram transmitidos na Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca, Alemanha, França e Estados Unidos, ganhando vários prêmios internacionais. Uma de suas temáticas principais: „vida e morte“. Em 1987, foi um dos primeiros jornalistas estrangeiros a cobrir o acidente do césio em Goiânia.
ALGO DO QUE FICA
Brasil, 2017, Direção Benedito Ferreira. Ficção, 23 min – Avó e neta vivem no centro de Goiânia, ao lado do lote onde aconteceu o acidente com o césio-137. Mas elas estão de mudança, pois em breve a casa será demolida para a construção de um museu. Enquanto isso, uma estranha presença orbita pela casa. O filme é uma reflexão pessoal e sensível sobre o acidente radioativo de Goiânia. O curta metragem foi premiado, em 2017, no Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA) e no International Uranium Film Festival em Berlim.
“Um ótimo filme, com um grande diretor que tem a coragem de conciliar uma fotografia calma e mensagens puramente cinematográficas com visões fortes. Confiante! Você não encontra isso com frequência. Um filme sem desfilar vaidades e sem a superestimação e arrogância de alguns realizadores. O duração também é perfeita: Nem muito nem pouco. O filme tem efeito“, avaliou o jurado do Uranium Film Festival, Marcus Schwenzel da Associação Federal Alemã de Diretores de Cinema. Durante a premiação, Benedito Ferreira evidenciou em sua fala a falta de discussão em torno do acidente do Césio 137: “Devemos discutir mais sobre o acidente, ter quer deixar viva a memória, para que isso não ocorra nunca mais.”
Benedito Ferreira:  Nasceu em Itapuranga (GO), 1989. Vive e trabalha em Goiânia. Artista visual e pesquisador. Graduado em Audiovisual pela Universidade Estadual de Goiás, Mestre em Arte e Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás e doutorando em Artes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Suas investigações artísticas estão centradas na imagem como escrita, na poética dos arquivos, suas montagens e apagamentos nos limites entre “documento” e “ficção”.  http://beneditoferreira.com/bio/.
RUA 57, NÚMERO 60, CENTRO (Street 57, House Number 60, Centre)

Brasil, 2011, Direção Michael Valim. Vídeo-arte / performance musical, 9 min – Entre os papéis da Arte, está o de trazer à tona coisas que a  memória da cidade tenta esconder. Para lembrar o acidente com o césio 137, uma performance de dança moderna justamente no local mais radioativo à época do acidente: Rua 57, número 60, no centro da cidade de Goiânia. As casas foram demolidas, a camada superior da terra removida e tudo foi descartado como lixo nuclear.

No entanto, o solo ainda estava muito radioativo. Para isso foi selado com uma camada de cimento de 50 centímetros de espessura. Até hoje, a Rua 57, número 60 é uma ferida aberta no centro de Goiânia e testemunha do pior acidente radioativo do Brasil.

Michael Valim é Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Filosofia da Arte e bacharel em Comunicação Social. Trabalha na TV da Universidade Federal de Goiás. Michael Valim: “Fui convidado para dirigir o filme pelo grupo de música „Vida Seca“ e pelo grupo de dança „¿Por Quá?“ com a proposta de fazer um ato político sobre a tragédia. Acredito que as autoridades usam muito a imagem da Leide das Neves como um mártir para disfarçar o descaso do poder público em relação à questão no passado e no presente. Por isso o filme é um pouco ruidoso e foi feito com a intenção de incomodar. O que aconteceu em Goiânia foi muito forte, não pode ser amenizado. Um povo sem memória está fadado a repetir os erros de seu passado.” 
ODESSON EM BERLIM
Brasil, 2021, Direção Márcia Gomes de Oliveira e Norbert G. Suchanek, Documentário, 20 min – Odesson Alves Ferreira poderia ser qualquer um de nós, quando foi gravemente contaminado pelo césio 137, em Goiânia. A família dele foi uma das mais atingidas. Foi seu irmão, dono de um ferro-velho, quem comprou a sucata contendo 19 gramas de césio 137. Odesson sobreviveu à radiação e luta desde o começo da tragédia pelos direitos das vítimas do Césio-137. 30 anos depois do acidente, ele viajou para Berlim para receber o Prêmio de Honra ao Mérito do International Uranium Film Festival 2017.  Foi seu primeiro vôo fora do Brasil. Numa entrevista, Odesson lembra cenas inesquecíveis do acidente.

Todos os filmes listados  serão exibidos na plataforma Vimeo da Cinemateca MAM Rio, de 13 a 19 de setembro gratuitamente! No entanto, agradecemos qualquer contribuição. A equipe do festival agradece aos apoiadores cariocas: Cinemateca do MAM Rio e Cachaça Magnífica de Faria.

Contato

International Uranium Film Festival
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