Jovem que recebeu tiro de fuzil na cabeça teve crânio reconstituído no Instituto do Cérebro
Procedimento, que envolveu dez profissionais de saúde, durou duas horas
Sobrevivente de um tiro de fuzil na cabeça, Caio Douglas Nascimento escreveu mais um capítulo de superação em sua vida, um ano e meio depois de ser atingido. No dia 25 de julho, ele passou por uma crânioplastia no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IECPN) para fazer a reconstituição de parte da caixa craniana, desfigurada por arma de fogo em 2022, depois que a família entrou, por engano de carro, em uma comunidade em Cordovil, Zona Norte do Rio.
A cirurgia, que mobilizou dez profissionais de saúde, entre cirurgiões, anestesistas, instrumentadores e enfermeiros, consistiu na colocação de uma prótese feita exclusivamente para o paciente, tendo como base a imagem de uma tomografia computadorizada. Foram duas horas de cirurgia e o material foi fixado com placas e parafusos de titânio.
“Temos que destacar o primeiro atendimento feito no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), que permitiu ao Caio estar vivo hoje. É um caso raro em que um paciente sobrevive a um disparo de fuzil na cabeça, graças ao magnífico trabalho feito pela equipe da unidade. No Instituto do Cérebro, o paciente deu outro passo importante em sua vida ao melhorar a estética e a qualidade de vida com a colocação da prótese”, frisa o secretário de Estado de Saúde, Dr. Luizinho.
Caio Douglas Nascimento entrou no centro cirúrgico às 9h. Na sala de operação, ele recebeu anestesia geral, foi entubado, raspou a cabeça e fez assepsia antes do procedimento. Às 11h em ponto, começou a reconstrução do seu crânio, comandado pelo neurocirurgião, Maurício Mansur Zogbi.
“O paciente apresentava uma falha óssea, em decorrência de um disparo feito por fuzil. Confeccionamos a prótese com cimento ósseo, usando uma imagem de alta resolução. O material foi colocado em uma fôrma e feito, no momento da operação, em 20 minutos. Esteticamente ficou muito bom e possui também a importante função de proteger o sistema nervoso central”, explica Maurício Mansur, médico do Instituto Estadual do Cérebro.
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Crânioplastia traz melhoria na qualidade de vida do paciente
Além da questão estética, o neurocirurgião e diretor clínico do IECPN, Paulo José da Mata, destacou outros benefícios para o paciente com a operação.
“A cirurgia tem vários pontos positivos para o Caio. Ela alivia a dor de cabeça, equilibra a pressão intracraniana e a sonolência, motivada pela falta do osso. Não é só estética, é qualidade de vida para o paciente”, atesta Paulo José da Mata.
Alexsandra Nascimento agradeceu o atendimento dado ao seu filho, disse acreditar em sua recuperação e falou que Caio nasceu novamente com a cirurgia feita no Instituto Estadual do Cérebro.
“Devido à deformação, o Caio não gostava de sair, mesmo com uso de boné. A minha expectativa é de elevação de sua autoestima e melhoria na recuperação. Hoje, ele tem as pernas atrofiadas porque só fica na cama. Minha ideia é motivar o Caio a andar e depois falar. Deus foi muito bacana comigo e com meu filho, tanto no Getúlio Vargas como no Instituto do Cérebro. Hoje, o meu filho está nascendo de novo. O doutor não tem noção do que ele acabou de fazer. Não foi uma cirurgia, foi um parto”, disse, emocionada Alexsandra Nascimento, a mãe de Caio Douglas.
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Primeiro atendimento no Hospital Estadual Getúlio Vargas salva vida de jovem
O calendário marcava o dia 1º de fevereiro de 2022. A volta para casa, depois de um fim de semana em um sítio com amigos em Magé, não foi como o planejado. A distração fez com que a família entrasse por engano na Estrada Porto Velho, próxima à Cidade Alta, em Cordovil. O carro, dirigido por Alexsandra Nascimento, foi alvejado por três tiros de fuzil e, um deles atingiu a cabeça de Caio.
O jovem com então 19 anos, foi levado ao HEGV, onde teve a vida salva. O paciente sofreu uma lesão extensa e grave no lobo frontal do crânio e teve que fazer uma crâniotomia de emergência – cirurgia que consiste na remoção de parte do osso do crânio.
Na unidade, Caio passou por sessões de fonoaudiologia três vezes por dia e de fisioterapia, duas. O corpo médico da unidade auxiliou o jovem a reaprender a respirar, a comer, a falar e a fazer exercícios, movimentando seus braços e pernas, para lhe devolver a coordenação motora. O tirou deixou sequelas na parte da cognição, como dificuldades para raciocinar, entender, falar e se movimentar. O caso de Caio é considerado por muitos especialistas como raro ou um milagre, diante da grande maioria da população que sofre um trauma desse impacto.
Daniela Von Zuben foi a médica que operou o Caio no plantão da terça-feira de 2022 no Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Para ela, um caso raríssimo em que uma pessoa sobrevive a um disparo de fuzil na cabeça.
“Os pacientes que recebemos com lesões provocadas por fuzis na cabeça costumam chegar ao hospital já com morte encefálica. Caio chegou no limite da função cerebral, apresentou midríase bilateral momentos antes da cirurgia começar. Essa condição indica danos cerebrais gravíssimos e geralmente irreversíveis. Mas apenas horas após a cirurgia, ele recuperou a função de forma absolutamente surpreendente”, relatou a neurocirurgiã, que atualmente trabalha no Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), em Niterói.
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Em 2023, Getúlio Atendeu mais de 200 pacientes alvejados por armas de fogo
De acordo com dados do Hospital Getúlio Vargas, em 2022, a unidade registrou 477 casos de perfuração de arma de fogo, com 135 óbitos. No primeiro semestre de 2023, foram 223, com 65 mortes. O que dá uma média de uma morte para três pessoas atingidas por arma de fogo.
FONTE: Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro
https://www.saude.rj.gov.br