Secretaria de Estado de Saúde fecha parceria com governo alemão para conter avanço da dengue
Projeto, que conta ainda com pesquisadores da UFRJ, captura mosquitos para análise e controle da movimentação do vírus. Novo método permite que vigilância aconteça antes de epidemias e favorece identificação de outras doenças transmitidas pelo mosquito
Com um aparelho que lembra uma bazuca, um agente de saúde varre o ar aspirando todo tipo de mosquito que encontra pela frente. À sua volta, outras armadilhas como esta são usadas com o mesmo intuito. A ação faz parte de uma estratégia pioneira de vigilância epidemiologia no Brasil, que pretende fazer uma marcação cerrada ao Aedes aegypti, o mosquito transmissor do vírus da dengue. Depois de capturados, os insetos são levados para análise em laboratório, sendo contados e separados por espécie e gênero para caracterização viral. Com base nesses estudos, pela primeira vez será possível obter informações preciosas sobre a presença do vírus da dengue, antes mesmo que o mosquito venha a infectar alguma pessoa.
“O controle do Aedes aegypti é a base para impedir a proliferação do vírus da dengue. Com o monitoramento das coletas, vamos ter a chance de estruturar ações específicas de controle para as regiões mais afetadas. Assim conseguiremos isolar o vírus e impedir que o número de casos se alastre para outras áreas próximas”, afirma Alexandre Chieppe, superintendente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde.
A análise desses dados vai permitir ainda a criação de modelos matemáticos precisos que possam antecipar futuros cenários de risco. Tal definição vai auxiliar gestores e profissionais de saúde na tomada de decisões para controle da doença, atuando na prevenção de surtos e epidemias. O projeto é fruto de um convênio de cooperação entre a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, o Instituto de Microbiologia da UFRJ e o Governo da Alemanha, através do Bernhard Nocht Institute.
“O que torna este projeto pioneiro é a combinação de metodologias mais refinadas de pesquisa com o trabalho da Vigilância do Governo. O apoio, sobretudo, na estruturação das coletas do mosquito tem beneficiado o avanço dos estudos”, avalia Davis Ferreira, professor e pesquisador do Instituto de Microbiologia da UFRJ.
Passo a passo da pesquisa – Ao participar do projeto, o governo alemão pretende também proteger contra a dengue a delegação de atletas do país que virá competir os Jogos Olímpicos Rio 2016. O Bernhard Nocht Institute está investindo 350 mil euros para subsidiar as pesquisas e estimular o intercâmbio de informações sobre o Aedes aegypti. Neste primeiro momento, os mosquitos vêm sendo coletados nos locais onde serão realizados os Jogos Olímpicos e seu entorno, além de UPAs próximas a esses locais. A meta inicial é capturar mil mosquitos por semana.
Depois de recolhidos, os mosquitos vão para o Laboratório Noel Nutels (Lacen), onde passam por triagem e são catalogados por gênero e espécie. Em seguida, as amostras são encaminhadas para o Instituto de Microbiologia da UFRJ, onde são analisadas num equipamento chamado PCR em Tempo Real. O aparelho, doado pelo instituto alemão para a UFRJ, é capaz de detectar vários tipos de vírus e bactérias, informando ainda a quantidade de insetos infectados. Mesmo que haja apenas um mosquito com vírus numa amostra de milhares.
Método identifica outras doenças – Fora a dengue, a pesquisa pretende rastrear antecipadamente a entrada do vírus Chikungunya no estado. Transmitido também pelo Aedes aegypti, a doença tem sintomas semelhantes à dengue, porém, causa dores nos músculos e articulações que podem durar meses. Até o momento, a doença só tem sido notificada em turistas. Mas a Vigilância Epidemiológica estadual já está em alerta para seu aparecimento.
Experiência alemã – A técnica de vigilância que aponta a presença de mosquitos infectados foi utilizada pela primeira vez na Alemanha, em 2009. A vigilância epidemiológica alemã é considerada a melhor do mundo pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo referência no estudo de vírus transmitidos por mosquito e outras viroses hemorrágicas. Lá, a vigilância rastreia rotineiramente todo tipo de arbovírus circulante na Europa. Até os mais raros, como o Usutu, que causa encefalite em pássaros. A principal utilidade da técnica no país é para monitorar o aumento da população de pernilongo (culex).
A dengue ainda não é um problema no continente europeu, mas já é vista com preocupação. Devido às mudanças climáticas e o aquecimento global, o Aedes aegypti não tem se restringido apenas às zonas subtropical e tropical. Por conta de sua grande capacidade de adaptação, o mosquito tem chegado a territórios antes inexplorados. Há menos de uma década, por exemplo, a dengue chegou à Argentina e já há relatos da doença nos Estados Unidos.
“O acordo de cooperação tem sido um encontro produtivo que ainda vai gerar muitos frutos. Principalmente no desenvolvimento da Vigilância Epidemiológica no Rio de Janeiro, que tem muito a avançar com essa experiência”, afirma Renata Campos, professora e pesquisadora do Instituto de Microbiologia da UFRJ.
FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br