Irradiação ajuda a preservar bens históricos e culturais
A tecnologia de irradiação já está sendo utilizada para desinfestar e conservar bens do patrimônio histórico, artístico e cultural, bem como documentos diversos. Já foram irradiados em todo o mundo achados arqueológicos, objetos etnológicos, instrumentos musicais, esculturas e documentos diversos.
Durante o processo de irradiação, são posicionados dosímetros para garantir que a dose correta tenha sido absorvida pelo material. O uso da radiação traz vantagens em relação aos processos químicos: não requer período de quarentena após o tratamento e não são gerados gases tóxicos ou substâncias nocivas. Com isso, não há impactos à saúde de quem realiza o processamento ou manuseio da obra, nem danos ao meio ambiente. A radiação tem um efeito direto, ao quebrar as moléculas de DNA dos microorganismos, e um efeito indireto, ao provocar a quebra das moléculas da água produzindo radicais livres que vão interagir com as moléculas de DNA e células vitais dos microorganismos, provocando a sua morte.
A radiação ionizante também é utilizada na redução da carga microbiana ou no combate a pragas em produtos agrícolas em alimentos, esterilizando produtos médicos e farmacêuticos, beneficiando materiais poliméricos utilizados na indústria automobilística, pedras e gemas preciosas. O irradiador multipropósito utilizado nesses procedimentos foi desenvolvido no Centro de Tecnologia das Radiações (CTR) do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) – instituto da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) em São Paulo – com tecnologia nacional.
Exemplos brasileiros
Wilson Calvo, gerente do Centro de Tecnologia das Radiações do Ipen, destaca que a principal barreira a vencer para a disseminação desta técnica no Brasil é o preconceito e a falta de informação. A técnica é segura, eficiente, ambientalmente correta e já foi utilizada em muitas ocasiões com bastante sucesso. No Ipen, já foram irradiadas várias obras de coleções particulares e de patrimônio público. A primeira irradiação foi realizada em 2001: um quadro peruano do século XVII pertencente a colecionador particular, no qual tratamentos convencionais aplicados sucessivamente contra a infestação por fungos não surtiram o efeito desejado.
Em 2005, foi irradiado no instituto parte do acervo que pertenceu ao Banco Santos: cerca de 3.400 matrizes de xilogravura, 850 impressões dessas matrizes e outros 1.700 manuscritos de cordel. No ano de 2007 teve início a irradiação de obras do museu Afro Brasil, situado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Tratavam-se de artefatos infestados por fungos e peças em madeira danificadas por cupins. Quadros da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social também já foram tratados. Uma escultura do século XIV representando Nossa Senhora e o Menino Jesus, pertencente ao acervo do Mosteiro São Bento de São Paulo, foi irradiada no ano passado, quando o local passou por uma restauração. Luci Diva Brocardo Machado e Paulo Roberto Rela, pesquisadores do CTR, foram os pioneiros na aplicação e responsáveis por essas irradiações no país.
A pesquisadora do CTR Maria Helena Sampa destacou que para cada obra é feita uma avaliação. A instalação para irradiar as peças foi desenvolvida com tecnologia inteiramente nacional e está à disposição de pesquisas e da difusão da técnica no Brasil. Nos irradiadores comerciais é possível a prestação de serviços.
Os especialistas enfatizam que muitos objetos que estão se deteriorando e gerando perdas para a história da humanidade podem e devem ser tratados pelo processo de irradiação. Mas, alertam que tanto a irradiação quanto os demais processos utilizados na recuperação de bens culturais não previne a reinfestação da obra. Por isso, é importante que o local que vai abrigar a obra esteja em condições adequadas.
FONTE: CNEN