RJ tem o 100º caso de sucesso no Programa SOS Reimplante
Homem de 36 anos teve polegar esquerdo reimplantado, esta sexta-feira, no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes
Já imaginou passar pelo trauma de ter um membro amputado e depois recuperá-lo e voltar a ter uma vida normal? É para que histórias como estas tenham finais cada vez mais felizes que o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN), em Duque de Caxias, tem um núcleo especializado em cirurgias complexas como essa. É o Programa SOS Reimplante, da Secretaria de Estado de Saúde, que nesta sexta-feira (8) chegou ao 100º. caso de sucesso em pacientes com membros amputados.
Um homem, de 36 anos, teve seu polegar esquerdo amputado enquanto manuseava uma serra circular. O acidente é considerado uma principais causas de amputação no Brasil, ocorrendo tanto no ambiente de trabalho ou em casa. Ele foi levado a um hospital municipal, que entrou em contato com a equipe do SOS Reimplante. Pouco tempo depois o paciente já estava no Hospital de Saracuruna, sendo submetido a 4h de complexa microcirurgia para ter de volta o seu dedo. A operação foi dirigida pelo microcirurgião Rudols Kobig, da equipdo SOS Reimplante, comandada pelo dr. João Recalde.
– Trata-se de uma microcirurgia delicada, porém muito comum. Uma equipe de especialistas reimplanta o dedo por meio das reparações de nervos, tendões, artérias e veias – explica João Recalde.
O paciente segue internado em estado estável no HEAPN. Após receber alta, sua recuperação será acompanhanda por atendimento ambulatorial por cerca de seis semanas, até a retirada do pino. Na sequência, ele começao tratamento com fisioterapia. Tudo como parte do programa SOS Reimplante.
João Recalde, Tropa de Elite da Saúde, coordena o Programa – Em dezembro de 2008, o microcirurgião João Recalde recebeu uma ligação do secretário de Estado de Saúde, Sérgio Côrtes, com um pedido urgente: deslocar-se com uma equipe para o HEAPN para tentar reimplantar o braço da menina Ana Catarina, na época com 10 anos, que teve o membro direito amputado enquanto tentava tirar roupas de uma máquina de lavar industrial no abrigo onde morava, em Areal. A criança foi transferida de helicóptero para a unidade e, menos de quatro horas depois, estava na mesa de cirurgia. O sucesso do procedimento foi o pontapé inicial para a criação do programa SOS Reimplante no hospital, único que oferece esse tipo de atendimento no estado.
Formado há 33 anos, Recalde se especializou em cirurgia plástica no Hospital dos Servidores e, em 1983, foi para a França estudar cirurgia de mão e microcirurgia técnica. Durante15 anos, o médico teve sua própria clínica de cirurgia reconstrutiva de mão, nos mesmos moldes da França.
– No Adão Pereira Nunes estamos dentro de uma estrutura voltada para emergência, atendendo pacientes muito graves. Os casos que surgem na rede privada volta e meia esbarram na burocracia da autorização do convênio e isso, algumas vezes, vai de encontro à urgência da operação. Não dá para, no meio de uma tragédia como essa, discutir questões financeiras com o paciente ou a família. No serviço público, vencemos toda essa burocracia -, explica Recalde.
Equipe SOS Reimplante – Formadas por cinco profissionais, as duas equipes da unidade são responsáveis pelo surpreendente índice de sucesso nas cirurgias: 80%. Para garantir este resultado, além do reimplante em si, muitas vezes é preciso realizar cirurgias complementares de reparação de nervos e procedimentos em tendões.
Outros dos casos – Nesses quase quatro anos de programa, o caso que mais o marcou o médico João Recalde foi o do menino Lucas de Oliveira. Em dezembro de 2010, Lucas, na época com 10 anos, foi atropelado na porta da casa do avô, em Xerém, e teve a perna direita esmagada. As chances de sucesso do reimplante eram de apenas 30%, mas Lucas superou o prognóstico inicial e, menos de dois anos depois, já recuperou quase todo o movimento do membro.
– Esse foi um caso limite que nos surpreendeu muito. Ver o paciente retomando sua vida, não tem nada que pague. O médico, em princípio, é um idealista e sempre teve o ideal de fazer o bem à população de baixa renda, a pessoas que não têm acesso à medicina de ponta. Por isso, sempre acreditei e desejei que o reimplante fosse oferecido pelo serviço público, pois lá está a grande maioria dos casos -, relata o médico. Agora, o desejo de Recalde virou realidade.
Como socorrer a vítima – Ao socorrer a vítima de amputação traumática de extremidades, um dos pontos mais importantes é acondicionar de forma correta o material amputado, que deve ser mantido a 4ºC. A maneira mais simples para isso é colocar a parte amputada em um saco plástico resistente, lacrar com fita adesiva e colocá-lo em um ambiente com água e gelo picado, distribuídos meio a meio, como numa caixa de isopor. Quanto mais rápido o paciente chegar ao hospital, melhor. Para ser realizada com sucesso, a cirurgia de reimplante deve ser feita em até seis horas após o acidente.
Como é o tratamento – Uma vez feita a cirurgia, após a alta, o paciente é acompanhado no ambulatório para troca de curativos, retirada de pontos e, quando necessário, do material de fixação dos ossos. A segunda fase da recuperação é o atendimento por um grupo de terapeutas ocupacionais para iniciar a reabilitação funcional.
O objetivo é recuperar os movimentos e a sensibilidade da parte amputada para que o paciente possa ser completamente reintegrado à sua rotina. Em geral, o acompanhamento leva de quatro a seis meses, que é o tempo necessário para a recuperação total.
FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro