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Brasileiros participam da descoberta de uma das causas da leucemia

[5/9/2011] Um artigo descrevendo pela primeira vez uma mutação ativadora na proteína IL7R (Receptor da Interleucina 7) está sendo publicado neste dia 4 pela revista Nature Genetics,tendo entre os autores os pesquisadores brasileiros Priscila Pini Zenatti, André Silveira, Jörg Kobarg, Silvia Brandalise e José Andrés Yunes. A pesquisa levou cinco anos para ser concluída e revela que a proteína IL7R defeituosa leva à proliferação descontrolada das células na leucemia linfoide aguda T (LLA-T). Foram estudados 201 pacientes com leucemia linfoide aguda T, sendo 68 provenientes do Centro Infantil Boldrini, de Campinas.
O estudo revelou que cerca de 10% dos pacientes com leucemia linfoide aguda T possuem a mutação IL7R. Esta descoberta é fruto da tese de doutorado de Priscila Pini Zenatti, pesquisadora do Boldrini e aluna da Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Ela contribui para a identificação e a compreensão de um novo mecanismo, responsável pelo surgimento da leucemia infantil; em curto prazo, essa mutação poderá ser usada como um novo alvo para o desenvolvimento de drogas específicas para o tratamento da leucemia infantil.

Coordenada pelos pesquisadores doutores José Andrés Yunes, do Centro Boldrini e do Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, e João Barata, do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, o estudo contou com a colaboração do Laboratório Nacional de Luz Síncroton; do Laboratório de Imunorregulação Molecular do Instituto Nacional do Câncer (EUA) e de outros centros de pesquisas da Europa, o que permitiu a completa caracterização das consequências celulares decorrentes da mutação do IL7R.

“Nos testes com cobaias, os ratinhos que receberam o gene da proteína IL7R defeituosa ficaram doentes, desenvolveram tumores e infiltração de células leucêmicas em diversos órgãos, que ficaram muito aumentados em tamanho, quando comparados com os ratinhos que receberam a proteína normal”, afirma a Priscila Zenatti.

A oncologista Silvia Brandalise, que é diretora do Boldrini, docente da FCM da Unicamp e responsável pelo Protocolo Brasileiro de Leucemia Linfoide Aguda, ressalta o apoio da Fapesp e do CNPq para a pesquisa. “Os resultados deste estudo contribuem para o conhecimento das diferentes vias de ativação das proteínas envolvidas na proliferação e maturação das células linfoides. Por outro lado, o reconhecimento da proteína IL7R na patogênese da leucemia T-derivada trará novas perspectivas para o desenvolvimento futuro de novas terapias alvo-específicas”.

A proteína IL7R é muito importante para o amadurecimento e a sobrevivência das células-tronco do sangue. Parte das células-tronco sanguíneas irá formar os linfócitos T (um tipo de célula de defesa do organismo), que nascem na medula, migram para o timo (órgão próximo ao coração), onde ocorre o processo de amadurecimento e depois seguem para outros órgãos (linfonodos, baço etc). “A mutação do IL7R causa a ativação contínua da proteína, contrariando o processo normal de amadurecimento celular, o que leva à proliferação exagerada de linfócitos imaturos”, explica a pesquisadora.

Esta mutação está presente em 10% das leucemias linfoide aguda T (LLA-T). “É preciso agora entender se as mutações do IL7R ocorrem ao acaso ou se há algum fator genético ou ambiental que predisponha a ocorrência da mutação e a progressão da célula mutante em leucemia”, acrescenta Andrés Yunes.

A fim de testar uma potencial aplicação terapêutica destas mutações, os pesquisadores realizaram testes preliminares com algumas drogas que foram capazes de levar à morte células portadoras da proteína mutada. “Isso já é um bom sinal, pois há casos de câncer onde as células se tornam resistentes ao tratamento. No entanto, ainda serão necessários futuros estudos para minimizar possíveis efeitos colaterais e também estudar a possibilidade de ministrá-las juntamente com outras drogas durante o tratamento das LLA-T”, diz Priscila Zenatti.

Os próximos passos do estudo serão concentrados no desenvolvimento de anticorpos e novos fármacos, que reconheçam especificamente a proteína mutada. “A utilização desses anticorpos, como uma nova droga, trará a possibilidade de inativar a proteína mutada sem afetar as células normais do paciente”, avalia a autora da tese de doutorado.

A leucemia
A leucemia é a forma mais comum de câncer na infância e na adolescência, representando em torno de 30% de todas as neoplasias em crianças menores de 15 anos de idade. Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é o tipo de câncer da criança e do adolescente mais frequente no Brasil, com estimativa de 2 mil novos casos por ano, segundo estimativa do Ministério da Saúde. Já a Leucemia Linfoide Aguda T (LLA-T), subtipo da LLA, corresponde a aproximadamente 15% dos casos de LLA.

O Centro Infantil Boldrini atua há 33 anos no cuidado de crianças e adolescentes com câncer e doenças hematológicas. Atualmente, está tratando perto 7 mil pacientes de diversas cidades brasileiras e alguns de países da América Latina, a maioria (80%) pelo SUS. É considerado um dos centros mais avançados do país, reunindo alta tecnologia em diagnóstico e tratamento especializado, com índice de cura de 70% a 80% em alguns tipos de câncer.

FONTE: UNICAMP
http://www.unicamp.br/