Design, arte e beleza nas unidades públicas de saúde. Por que não?
Ao longo dos anos, a arquitetura das unidades de atendimento em saúde sofreu inúmeras transformações; mudanças estruturais e conceituais. Desde 2010, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) vem adotando a Política Nacional de Humanização, proposta pelo Ministério da Saúde, com a ideia de proporcionar ambientes mais acolhedores nas unidades, aliando a arquitetura sólida a design inovadores, acolhedores e vivos. Aos poucos, a arquitetura vertical, com formas retas e austeras dos hospitais do início do século passado, vem dando lugar a ambientes coloridos, com iluminação natural, obras de arte, personagens e objetos de motivação. O que parecia uma realidade distante, se tornou um desafio e hoje o Governo do Estado conta com uma equipe de profissionais experientes focados nisso: criar unidades públicas de saúde recheadas de beleza.
– O paciente passa muito tempo internado sem nada para fazer. É preciso que o ambiente seja agradável, que o acolha. Em 2010 fizemos um trabalho muito focado na gestão, agora estamos partindo para questões de hotelaria hospitalar. O secretário Sérgio Côrtes entende a importância de mudar o paradigma da frieza e distanciamento do hospital público -, explica a responsável pelo setor de Humanização da SES, Fabiani Gil, lembrando que o trabalho de humanização é baseado em uma combinação de estudos, que vão desde o conceito da unidade de saúde até a psicodinâmica das cores.
Para se chegar ao resultado final, uma equipe de 10 profissionais da Secretaria de Saúde – entre designers, publicitários e psicólogos – visita, discute e cria uma identidade visual para cada novo espaço inaugurado pela Secretaria. Esse trabalho já produziu tomógrafo com cara de nave espacial, fachadas com literatura de cordel, UTI iluminada com lâmpadas de LED coloridas à escolha do paciente e murais do artista plástico Romero Britto.
– Discutimos o conceito de cada novo ambiente e interferimos no projeto com o que é necessário fazer para torná-lo mais agradável para todos: médicos, pacientes, atendentes. De posse da planta, fazemos os estudos de sinalização e também começamos a pensar no conceito, que deve ser ao mesmo tempo subjetivo e prático -, completa a coordenadora da equipe de Comunicação Visual da SES, Leíse Vales.
Equipe criativa – A equipe de Comunicação Visual da SES, responsável pela humanização dos espaços de saúde, desenvolve seus trabalhos baseada em quatro pilares: acessibilidade, acolhimento, ambiência e humanização. A inspiração também vem do conceito de Design Thinking, em que equipes colaborativas buscam soluções através da investigação e do diagnóstico, visitando a unidade hospitalar a ser implementada, observando sua rotina, seus funcionários e pacientes. “Nosso processo de trabalho se divide entre visita, análise, diagnóstico, solução e criação. O desafio é criar um projeto bonito e funcional”, explica a designer Renata Peres.
Turma da Caraminhola – O recém-inaugurado Instituto Estadual do Cérebro – unidade especializada em neurocirurgia que fica no Centro do Rio – tem áreas dedicadas exclusivamente ao momento de relaxamento, tão importante para quem recebe a notícia de que precisa fazer uma complexa cirurgia para a busca da cura à sua doença. Para os pequenos há a brinquedoteca do térreo, toda decorada com personagens criados exclusivamente para o local. É a Turma da Caraminhola, grupo de personagens que vai tornar a experiência de internação em um momento ao menos lúdico. Nos leitos pediátricos de terapia intensiva, o paciente escolhe a cor do quarto. Cromoterapia e brincadeira interagindo o tempo todo com a criança.
Mas o espaço não tem um olhar dedicado apenas às crianças. Um piano foi doado pelo médico Paulo Niemeyer e instalado no lounge do Instituto do Cérebro, decoração clássica toda pensada para que a experiência de aguardar por um exame, internação ou por notícias de um parente seja o menos estressante possível.
– Quando entrei aqui pensei que toda essa decoração tinha sido colocada apenas para a abertura da unidade. Me contaram que é um espaço permanente e, confesso, fiquei incrédula – revela a dona-de-casa Ana Maria Gonçalves.
No Hospital da Criança, uma viagem espacial – Imagine uma criança fazendo tomografia computadorizada, mas em vez de entrar num tomógrafo, ela acaba entrando em uma nave espacial de onde poderá ver planetas e estrelas junto com dois amiguinhos que, com roupas espaciais, acompanharão o pequeno. Isto é realidade no Hospital Estadual da Criança, inaugurado em março em Vila Valqueire. O projeto de decoração faz parte da iniciativa da área de humanização da Secretaria de Estado de Saúde no sentido de promover melhor acolhimento dos pacientes, proporcionando bem estar e até auxiliando na cura deles.
A sala do T-01 – como a nave espacial tomógrafo foi batizada – é totalmente preparada para que a criança sinta-se no espaço sideral, com estrelas, planetas estampando as paredes. Pontinhos de led no teto dão a impressão de que estrelas acompanham a criança durante o exame. Além das estrelas, os amiguinhos Bia e Breno (personagens que ilustram todo o hospital) compõem a viagem com roupas espaciais.
A moradora do Méier Rayane Brasil da Silva, levou o sobrinho Kauã Brasil da Silva para o Hospital da Criança na última semana para que ele participasse do primeiro mutirão de cirurgias da unidade. Encantamento era a expressão mais utilizada por ela.
– Pra gente está sendo um grande alívio. Não só por ter conseguido, enfim, a tão esperada cirurgia, mas também por ver toda a estrutura e o carinho oferecidos. Ainda não acredito que esse hospital pertence à rede pública – desabafa Rayane.
Unidades de saúde – Desde 2010, UPAs e todas as novas unidades de saúde da rede estadual contam com este conceito. Entre os hospitais estão o Hospital de Traumatologia e Ortopedia Dona Lindu, em Paraíba do Sul, Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, Hospital Estadual da Mãe, Hospital Estadual da Criança, Rio Imagem e o Instituto Estadual do Cérebro.
FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br