Desmitificar a questão nuclear é essencial para a aceitação pública do tema
A palestra “Aplicações das tecnologias nucleares: o retorno de Prometeu?”, do físico Alexandre F. Ramos, professor da Universidade de São Paulo (USP), deu início ao segundo e último dia do Seminário Internacional de Energia Nuclear – SIEN 2016, na sede do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro, Sinduscon-Rio, centro da cidade, nesta quarta-feira (21/09). Ramos defendeu a divulgação de informações sobre o uso das tecnologias nucleares nas diferentes áreas da medicina, agricultura e indústria como forma de ajudar a desmitificar a questão nuclear e impactar positivamente na opinião pública.
“A radiação é uma injustiçada no senso comum. É importante acabar com os dogmas na questão nuclear. A vida evoluiu sob o efeito da radiação. Há um desconhecimento geral sobre o seu uso e benefícios”, afirmou o professor.
Ramos apresentou no SIEN um projeto que realizou com estudantes das áreas de ciências biológicas, ambientais e humanas com o objetivo de informar sobre o tema. O professor tem Pós-doutorado na Stony Brook University, em Nova York e atua em diversos departamentos da USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades; Núcleo de Pesquisa em Modelagem de Sistemas Complexos; e Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina). O físico também realiza pesquisas e trabalha no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Durante a palestra, o professor enumerou a série de utilidades da energia nuclear, desde a geração de energia, preservação de alimentos, eliminação de pragas no campo, até diagnóstico e tratamento de doenças.
O professor lamenta que a energia nuclear seja associada no senso comum apenas a questões como os acidentes de Chernobyl e Fukushima e afirma que quando explicado ao público as reais dimensões desses tópicos polêmicos e reveladas as expectativas positivas do uso da energia e tecnologia nucleares, há uma reação positiva da população em relação ao tema.
“É importante fugir das armadilhas ideológicas e do viés cognitivo, que existe até mesmo dentro da comunidade científica. A dificuldade de esclarecimento sobre o tema dificulta a aceitação pública e impede que se relacione a energia nuclear aos benefícios que traz para a civilização”, explica o professor da USP.
Projetos nucleares e mercado de trabalho
O SIEN contou também com palestras do Vice-Almirante Ney Zanella dos Santos e do Comandante Nilo de Almeida, respectivamente Diretor Presidente e Chefe do Departamento Comercial da Amazul. A Amazônia Azul Tecnologias de Defesa S.A. foi criada em 2013 com o objetivo de promover, desenvolver, transferir e manter tecnologias sensíveis às atividades do Programa Nuclear da Marinha (PNM), do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) e do Programa Nuclear Brasileiro (PNB). A tradicional visita técnica que encerra o SIEN este ano será realizada nesta quinta-feira (22/09) ao Estaleiro e Base Naval de Submarinos (EBN) da Marinha do Brasil, em Itaguaí, região metropolitana do Rio, onde está sendo implementado o PROSUB.
Em outro painel, “Combustível Nuclear – Como gerar novos negócios e oportunidades para o Brasil”, o presidente da Industrias Nucleares do Brasil (INB), João Carlos Derzi Tupinambá, fez apresentação sobre como o Brasil está se preparando para a 2a fase do enriquecimento isotópico de urânio. O painel teve participação também de Ézio Ribeiro, Superintendente de Enriquecimento Isotópico da INB, Rogério Felipe Lins Barbosa, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, José Antonio Barreto de Carvalho, Coordenador Geral de Reatores e Ciclo do Combustível da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), e Luiz Alberto da Cunha Bustamante, Consultor Legislativo do Senado Federal para a Área de Minas e Energia. A tarde teve participação de Carlos Feu Alvim, da E&E Ecen Consultoria, proferindo palestra sobre “A necessidade de formulação de uma política nuclear para o Brasil”.
O painel que encerrou o SIEN tratou de mão de obra especializada na área nuclear e como atrair os jovens e suprir a carência do Mercado. Participaram do tema o professor Aquilino Senra, da COPPE/UFRJ, e Antonio Teixeira e Silva, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben). As jovens estudantes de engenharia nuclear da UFRJ, Fernanda Werner e Paula Rodrigues, vencedoras do concurso Public Acceptance Competition, organizado pelas empresas francesas EDF e Areva, falaram sobre mercado de trabalho e da viagem à França para visitar usinas nucleares e encontrar com especialistas da área.
Os participantes do evento puderam ainda trocar ideias e conhecer os produtos e serviços das empresas que participam da feira de negócios paralela Exponuclear como Rosatom e Eckert & Ziegler Brasil Isotope Solutions – EZBIS, parte do grupo alemão Eckert & Ziegler.
O VII Seminário Internacional de Energia Nuclear, realizado anualmente pela Planeja & Informa Comunicação e Casa Viva Eventos, tem a intenção de dinamizar o debate e apresentar soluções e novas tecnologias para o desenvolvimento nuclear, criando um espaço importante para a discussão e intercâmbio técnico-profissional, além de um ambiente favorável para a realização de negócios.