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Estudo identifica causas de perda dentária em adultos

Procura tardia pelo serviço odontológico está entre os motivos

ju_661_p8_aPesquisa desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Unicamp identificou que, num período de quatro anos, entre 2011 e 2015, mais de um terço de 143 adultos avaliados teve perda dentária, sendo que os molares (dentes posteriores), fundamentais para mastigação, foram os mais atingidos. “A procura tardia pelo serviço odontológico, motivado por dor, presença de cárie não tratada e o avanço da idade determinaram a perda dentária”, destaca Manoelito Ferreira Silva Junior, autor da dissertação de mestrado apresentada na FOP.

O estudo foi orientado pela professora Maria da Luz Rosário de Sousa e coorientado pela docente Marília Jesus Batista, e teve como objetivo avaliar os fatores de risco para perda dentária e os principais motivos para a extração dentária em adultos no município de Piracicaba. O tema trata da continuidade do trabalho de doutoramento da professora Marília que, em 2011, constatou que os adultos do município apresentavam elevado índice de dentes perdidos.

“Quando fiz a pesquisa, a maioria da população apresentava a necessidade de restauração e/ou tratamento de canal. Neste novo estudo, quatro anos depois, os mesmos indivíduos não passaram por nenhum tratamento e, na sua maioria, tiveram os dentes extraídos. No estudo ficou evidenciado que as pessoas só buscam o serviço quando a cárie já está instalada e em fase avançada, a ponto de não ter mais condições de promover o tratamento”, explica Marília.

Pelo estudo, a dor teria sido o principal motivo relatado pelos adultos para a escolha da extração dentária, principalmente, devido à falta de outra opção de tratamento no momento da busca pelo serviço odontológico. Outro aspecto importante foi o relato do alto custo dos serviços odontológicos necessários para recuperação dos dentes.

No primeiro estudo, em 2011, participaram da pesquisa 248 voluntários, de 30 setores censitários sorteados, os quais foram distribuídos em 23 bairros do município. Destes, foram contempladas onze residências de cada setor censitário e um adulto de cada residência passou por exame bucal. A pesquisa contou com apoio da Fapesp nos dois momentos, e envolveu adultos na faixa etária entre 20 e 64 anos, em 2011. Em 2015, durante a pesquisa realizada por Manoelito Silva Junior, houve uma perda da amostra, que passou a contar com 143 indivíduos. “A diminuição se deu por motivos como a mudança de endereço, óbito, entre outros fatores”, explica Silva Junior.

Em 2011, entre os 248 adultos avaliados, a dor foi o principal motivo relatado por 37,5% dos voluntários para escolha da extração dentária. Para 52%, a opção da extração ao invés de recuperação do dente, ocorreu, principalmente, pela falta de outro possível tratamento no momento da procura pelo serviço odontológico.

Em quatro anos de acompanhamento, 51 adultos (35,7%) apresentaram pelo menos uma perda dentária e, somados, tiveram 130 dentes perdidos. ‘‘Apesar de ocorrer a perda dentária, o número de dentes cariados permaneceu inalterado, o que demonstra que outros dentes foram acometidos pela cárie e podem, assim, continuar sendo perdidos por esse motivo’’ afirma Silva Junior. Os resultados apontados na pesquisa remetem para a importância da prevenção de doenças bucais, sobretudo da cárie dentária, doença de maior prevalência no mundo e que tem impactado na perda dos dentes. Os pesquisadores avaliam que, além da ampliação de acesso aos serviços odontológicos, a melhora nos hábitos de saúde e escolhas saudáveis na alimentação e o uso de cremes dentais fluoretados são fundamentais.

Outro destaque da pesquisa é o estudo longitudinal realizado em dois momentos. Segundo Manoelito Junior, é a primeira vez no Brasil que se realiza uma pesquisa populacional de saúde bucal em adultos compreendida em um período tão longo. ‘’Estudos longitudinais com exames clínicos, que avaliam os mesmos indivíduos, são pouco explorados no Brasil, ainda mais em se tratando de uma população adulta”.

Estudos epidemiológicos, em geral, são realizados com crianças ou idosos e, neste caso, a faixa etária de adultos foi estendida, de 20 a 64 anos. O fato de a pesquisa ser realizada em quatro anos possibilitou o acompanhamento dos mesmos indivíduos e verificou as principais alterações de saúde bucal.

A perda dentária é um processo que ocorre, principalmente, na população adulta. No entanto, alerta Silva Junior, “o envelhecimento não é fator determinante para a perda dentária. Se o indivíduo cuidar da condição bucal permanecerá com os dentes até o final da vida”.

Em 2015, entre os 143 adultos, o estudo mostra que a média de dentes perdidos foi de 3,94 para os adultos jovens (entre 20 e 44 anos em 2011) e de 16,27 para adultos mais velhos (com 45 a 64 anos em 2011). “Deve-se observar que estamos avaliando uma amostra com ampla faixa etária, e os indivíduos obtiveram realidades diferentes em relação à experiência de políticas públicas de saúde bucal no Brasil”, esclarece Silva Junior. Em sua opinião, os indivíduos mais velhos apresentaram um efeito cumulativo de perdas dentárias, que pode ser um reflexo da baixa procura dos serviços pela forma de atendimento odontológico mutilador no passado, e ainda acrescenta sobre o baixo conhecimento das formas de prevenção das doenças bucais.

Outro fator significativo do estudo é que, quando se avaliam apenas os adultos jovens, observou-se maior número de dentes restaurados. “Esse resultado significa que adultos mais novos procuraram mais os serviços odontológicos, quando comparados com os adultos mais velhos. Deve-se observar, também, que os indivíduos de 20 a 44 anos provavelmente se beneficiaram mais com as novas políticas de saúde públicas disponibilizadas, como presença de flúor na água de abastecimento e cremes dentais, além de maior oferta de serviço público odontológico”, avalia Silva Junior.

Publicação

Dissertação: “Estudo longitudinal sobre a perda dentária em adultos e fatores associados”
Autor: Manoelito Ferreira Silva Junior
Orientadora: Maria da Luz Rosario de Sousa
Coorientadora: Marília Jesus Batista
Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)

FONTE: UNICAMP
http://www.unicamp.br