‘Jovens perderam sensação de perigo contra o sarampo’, avalia secretário
A segunda fase da Campanha Nacional de Vacinação contra o Sarampo começa na próxima segunda-feira (18) em todo o país. O foco desta etapa será o público com faixa etária de 20 a 29 anos de idade, considerado o mais difícil de ser alcançado em campanhas de vacinação.
De acordo com o último boletim epidemiológico sobre sarampo, a faixa etária foco da segunda fase da campanha é a que mais acumula número de casos confirmados da doença. Nos últimos 90 dias de surto ativo, foram confirmados 1.729 casos em pessoas de 20 a 29 anos. O secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, explica que um dos motivos é que esses jovens não tomaram a vacina em nenhuma fase da vida e, se tomaram, não voltaram para aplicar a 2ª dose, necessária para a proteção.
Além disso, Wanderson acredita que existe uma perda da sensação de perigo por parte dos jovens de hoje em dia pois a doença é vista como comum, e que não vai causar nenhum impacto grave para a saúde. Para atingir esse público, o Ministério da Saúde aposta em algumas estratégias. Uma delas é a realização da segunda fase da campanha de vacinação em locais de grande circulação dessas pessoas. A ação será realizada em conjunto pelas três esferas do governo federal, estadual e municipal.
Confira a entrevista com o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira.
Por que o público de 20 a 29 anos é o que mais tem registro de casos de sarampo?
O número de casos de sarampo em jovens adultos é alto porque, no passado, essas pessoas receberam apenas uma dose da vacina aos 9 meses de idade. Em muitos casos não era recomendado o reforço da vacina com a segunda dose. Estudos mais atuais mostram que essa dose aos 9 meses tem menor efetividade. Por isso, no Calendário Nacional de Vacinação atual é recomendada a primeira dose aos 12 meses e a segunda aos 15 meses.
Por que essa população é tão difícil de ser alcançada pelas campanhas de vacinação?
Um dos motivos para isso é que esse público não presenciou as sequelas que o sarampo deixa, como perda auditiva, pneumonia severa e óbito. Existe uma perda dessa sensação de perigo por parte dos jovens de hoje em dia pois a doença é vista como comum, e que não vai causar nenhum impacto grave. Eles não presenciaram os diversos surtos da doença no país, que ocorriam nas décadas de 70 e 80.
O que o Ministério da Saúde tem feito para reverter esse quadro?
O Ministério da Saúde tem investido em campanhas para alcançar o público jovem para que eles compareçam aos locais de vacinação e se imunizem contra o sarampo. Além disso, incentivamos, em parceria com estados e municípios, que a vacinação, especialmente para essa faixa etária, seja realizada em locais estratégicos, como universidades, restaurantes, shoppings, centros comerciais, etc. Além disso, em parceria com a Atenção Primária da Saúde dos municípios são incentivadas estratégias para atingir essas pessoas, como realizar a busca ativa domiciliar, em horários alternativos, principalmente fora do horário comercial.
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Por que é tão difícil calcular a cobertura vacinal para adultos?
Porque não tínhamos sistema de informação eletrônico no passado. As doses eram feitas baseadas na estimativa de pessoas nascidas vivas por cidade. Não tinha registro nominal dessas doses e isso possibilitou que uma pessoa pudesse se vacinar mais de uma vez na mesma campanha, por exemplo. Sem o dado nominal não é possível estimar cobertura vacinal porque não tem como saber quantas pessoas, individualmente, não tomaram determinada vacina. O que se tem é uma estimativa imprecisa baseada no número de doses aplicadas.
Qual a orientação para as mulheres que pensam em engravidar?
O ideal é que elas tomem a vacina tríplice viral antes de engravidarem, inclusive para se protegerem contra outras doenças, como a rubéola que pode ocorrer de forma congênita e tem mais sequelas para o recém-nascido do que o sarampo. A tríplice viral protege contra sarampo, rubéola e caxumba. O Brasil não tem relatos da rubéola congênita desde 2015, mas se o país tem baixas coberturas vacinais para o sarampo, que é a mesma vacina, também terá para rubéola. A única diferença é que o sarampo tem capacidade de infecção maior do que a rubéola. É de extrema importância reforçar a vacina para essa faixa etária. Quando devidamente vacinada antes da gravidez, a mulher protege o bebê com a produção de anticorpos que passam de mãe para filho.
Caso a mulher esteja grávida ao tomar a vacina, a recomendação é fazer o acompanhamento da gestante, não havendo necessidade de interrupção da gravidez. Deve ser registrado no módulo de eventos adversos e feito acompanhamento da gestante durante o pré-natal.
Com o período de fim de ano chegando, em que os bancos de sangue ficam com o estoque baixo, qual a recomendação para quem quer doar sangue?
Quem for doar sangue deve esperar quatro semanas (1 mês) após ter tomado a vacina contra o sarampo porque a dose contém o vírus atenuado. Se houver a doação de sangue antes das quatro semanas o doador pode transmitir o vírus para outra pessoa.
A orientação é que a pessoa doe sangue 30 dias antes de se vacinar contra o sarampo.
Quais serão os próximos passos para conter a cadeia transmissão do vírus?
O Ministério da Saúde fez a maior aquisição de vacinas dos últimos 10 anos. O Brasil tem uma estimativa de 59 milhões de pessoas suscetíveis ao sarampo de todas as faixas etárias. O objetivo é atingir essa população suscetível ao vírus, incluindo o público que antes não fazia parte do Calendário Nacional de Vacinação, que são pessoas de 50 a 59 anos. A vacina era oferecida no setor privado e agora vamos fornecer no setor público também.
Nós adquirimos, em 2019, 60,2 milhões de doses da vacina tríplice viral. Para 2020, o Ministério da Saúde adquiriu 65,4 milhões de doses. A pasta comprou esse montante expressivo, se comparado a 2018 (30,6 milhões), para realizar as quatro etapas da Campanha Nacional contra o Sarampo e, com isso, cobrir toda a população brasileira. As próximas etapas serão realizadas em 2020 para alcançar as faixas etária de 30 a 59 anos e de 5 a 19 anos.
FONTE: Ministério da Saúde
http://portalms.saude.gov.br