Pesquisa revela que cariocas de baixa renda são os que mais doam sangue
Moradores da Baixada e Zona Norte são responsáveis por mais de 60% do sangue que vai para as emergências do estado. Zona Sul do Rio tem a menor taxa de doadores
O dia mal raiou e Ricardo Tunala da Silva, de 36 anos, já saiu de casa. Morador de Magé, ele acorda cedo todos os dias para ir de ônibus ao trabalho no Rio de Janeiro. Uma rotina que só é alterada a cada três meses, quando se levanta ainda mais cedo para cumprir um dever pessoal que repete há 16 anos: doar sangue.
O exemplo do morador de Magé não é isolado. Ele reforça os dados de uma pesquisa, ainda inedita, realizada pelo Hemorio, que procurou analisar o perfil social dos doadores de sangue no Rio de Janeiro. Ao longo de 2012, foram ouvidos 608 doadores de sangue. O levantamento buscou identificar a região de moradia e a condição socioeconômica dos voluntários.
O resultado revela que 64% das bolsas de sangue que abastecem as grandes emergências do estado saem das veias dos moradores da Baixada Fluminense e da Zona Norte do Rio. A maioria dos doadores, cerca de 70%, tem renda familiar entre um e cinco salários mínimos.
Na capital carioca, os bairros da Zona Sul aparecem na lanterna da solidariedade. A região, que conta com 570 mil moradores, tem apenas 5% de doadores segundo a pesquisa. Proporcionalmente, possui a menor taxa de participação. Bairros nobres como Leblon, Jardim Botânico e Lagoa sequer aparecem na amostragem.
O anúncio ganha mais destaque nesta sexta-feira (14), com o Dia Mundial do Doador de Sangue. Com a pesquisa, o Hemorio pretende alertar a população para uma maior participação na doação de sangue, estreitando as diferenças entre as classes sociais.
Para a diretora geral do Hemorio, Clarisse Lobo, o fator cultural ainda é determinante para explicar essa desigualdade entre os doadores. Segundo ela, doar sangue ainda é uma atitude com maior adesão entre a população de baixa renda, por ser a que mais recorre ao serviço público de saúde.
“Após um acidente, o ferido pode ser levado para a emergência pública, seja qual for sua classe social e pode precisar de uma transfusão. Só depois vai para o hospital privado. Poucos se dão conta disso, mas todos se beneficiam da saúde pública. Nada mais justo que todos colaborem”, afirma a diretora do Hemorio.
Ricardo Tunala é um doador frequente e, sozinho, preenche quatro bolsas de sangue por ano. Nunca doou para um familiar ou alguém conhecido por nunca haver necessidade. Ele se satisfaz por saber que ajuda feridos nas emergências e pacientes com leucemia e outros tipos de câncer. Faz isso por solidariedade, mas o hábito também lhe trouxe outros benefícios.
“Para que meu sangue possa ser bem utilizado, procuro me alimentar bem e levar um estilo de vida saudável. Quer dizer, indiretamente, eu também ganho com isso”, conta Tunala.
Ainda segundo a diretora do Hemorio, o problema é que grande parte da população se sente motivada a doar somente nas catástrofes. “Para que haja um estoque estratégico nos grandes hospitais de emergência, a doação precisa se tornar um hábito. É uma questão de cidadania”, conclui.
FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br