Radiologia: formação pública para o SUS na Escola Politécnica
EPSJV/Fiocruz é uma das poucas instituições públicas que oferecem o curso técnico em radiologia, além de várias especializações na área, que se torna cada vez mais importante para o atendimento à população no SUS
Com uma formação feita majoritariamente por instituições privadas, os profissionais de Radiologia exercem importantes funções no Sistema Único de Saúde (SUS), pois são os responsáveis, por exemplo, pela realização de exames radiográficos e a preparação de pacientes que vão se submeter a mamografias, tomografias computadorizadas, ressonâncias magnéticas e ultrassonografias, entre outros. Foi por reconhecer a importância de uma formação pública, mais alinhada aos princípios e diretrizes do SUS para esses profissionais, que a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) passou a oferecer, em 2012, o Curso Técnico em Radiologia. Segundo Alexandre Moreno, coordenador do curso na EPSJV/Fiocruz, no estado Rio de Janeiro, somente a Escola Politécnica oferece de forma gratuita a formação técnica. “No Brasil, em sua maior parte, os cursos oferecidos são privados, sem a premissa da saúde pública, do SUS. Um dos desafios é ter mais espaço para essa formação nas instituições públicas. Precisamos avançar nas parcerias, porque é por meio delas que a gente avança na área da saúde e defende o nosso SUS que, apesar de todos os problemas, é onde a maior parte dos brasileiros é atendida”, ressalta.
Sérgio Ricardo de Oliveira, vice-diretor de pesquisa da EPSJV/Fiocruz, ressalta que, por mais de três décadas, a Radiologia ficou abandonada pelo processo formativo público, o que fez com que as estruturas privadas ganhassem mais força. “A gente entende que esse processo formativo da Escola Politécnica, sendo público, é muito importante. Precisamos formar excelentes profissionais técnicos que percebam também a responsabilidade deles como elementos primários para um diagnóstico preciso que colabore para que os tratamentos sejam eficientes”, aponta. E acrescenta: “A EPSJV tem uma visão mais ampla em relação à formação técnica. É necessário que o profissional conheça todas as áreas. Então, no curso, ele aprende especificidades da mamografia, tomografia, ressonância, medicina nuclear, áreas complexas que na maioria dos cursos não são abordadas”.
Para discutir o trabalho do profissional de Radiologia, este ano, a Escola Politécnica promoveu o I Simpósio de Radiologia, em conjunto com o II Simpósio Carioca de Radiologia CRTR4, visando discutir o desenvolvimento tecnológico na área e o perfil profissional dos trabalhadores especialistas nas técnicas radiológicas para o século XXI.
Radiologia no SUS
De acordo com Sérgio, atualmente, há uma grande demanda no SUS em relação à área de Radiologia. “Hoje o SUS depende de uma grande quantidade de trabalhadores para, especificamente, atuarem para um serviço de imagem que cada vez se torna mais complexo em relação ao equipamento”, ressalta, explicando que os equipamentos de Radiologia básica continuam sendo do mesmo modelo de quando foram criados, há cem anos, mas houve alguns avanços em relação ao funcionamento e sistemas de processamento, que passaram a ter uma característica mais digital. “A necessidade de capacitar trabalhadores hoje, principalmente, para o serviço público, está voltada não só para a atenção e o atendimento, mas também para a questão de operação desses equipamentos. Há uma dicotomia entre o que temos de equipamento e o que temos de capacidade do profissional em operacionalizar esse sistema”, alerta.
Formação pública na Fiocruz
Desde 2016, a EPSJV/Fiocruz oferece o curso de habilitação técnica em Radiologia, na modalidade subsequente ao Ensino Médio. Anteriormente, a Escola Politécnica chegou a oferecer o Curso Técnico em Radiologia pelo Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja), com o objetivo de formar trabalhadores técnicos que não tinham concluído o ensino médio na idade regular de ensino. O curso aconteceu até 2017, com carga horária de 2.400 horas, além de outras 400 horas de estágio supervisionado, com as disciplinas da formação geral do ensino médio e as da formação profissional, organizadas em um currículo único e integrado, no turno da noite. “Conquistamos visibilidade quando qualificamos novos profissionais para aturem no campo da saúde, especialmente na aplicação de técnicas radiográficas com processos de diagnóstico por imagem e tratamentos que necessitam do uso de radiação ionizante. Diante do cenário de construir novos saberes e atender a crescente demanda do SUS por profissionais capacitados, firmamos parcerias com o Conselho Regional de Técnicos em Radiologia do Rio de Janeiro e com o hospital Miguel Couto, no Rio de Janeiro, trazendo benefícios para os nossos alunos, como os estágios”, destaca Glaucia Pires, coordenadora do curso em conjunto com Alexandre.
Foi a partir dessa primeira experiência com o Curso Técnico em Radiologia que a Escola passou a ofertar também a Especialização Técnica em Proteção Radiológica para Ambientes de Saúde, em 2012, voltada para profissionais da área da saúde. O foco do curso era prevenir os riscos que a técnica das radiações ionizantes, usada em radiografias e mamografias, trazem tanto para o trabalhador como para o usuário.
A EPSJV/Fiocruz construiu também o currículo e organizou turmas do curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Mamografia, destinado a Técnicos em Radiologia, com objetivo de ser um aprofundamento da técnica de mamografia para técnicos de radiologia. Os alunos dessa formação fazem estágio supervisionado em instituições públicas de saúde. A previsão é que uma nova turma seja aberta em 2019.
Expansão da Radioterapia no SUS
Em parceria com a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES/MS) e o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a EPSJV/Fiocruz coordena também um projeto para a especialização em radioterapia de profissionais técnicos em Radiologia em todo o país. A iniciativa faz parte da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer e do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) – Brasil 2011-2022, do Ministério da Saúde. O curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Radioterapia com Ênfase em Aceleradores Lineares formou, entre 2017 e 2018, 135 trabalhadores do SUS vinculados aos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) e Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), que integram o Plano de Expansão da Radioterapia no SUS, instituído pelo Ministério da Saúde em maio de 2012. A formação prepara os técnicos tanto para a aquisição das imagens radiológicas para planejamento quanto para a aplicação das radiações ionizantes no usuário. Essa radiação se dá por meio de aceleradores lineares — equipamentos utilizados no tratamento do câncer — que, no processo de integração de várias ações no interior da política, foram distribuídos por 63 municípios de 22 estados e no Distrito Federal. Para Flavion Salles, professor-pesquisador da EPSJV/Fiocruz, o plano de expansão da radioterapia se justifica pelo aumento do número de casos de câncer no país: “Como o número de câncer hoje tem aumentado muito, há também uma crescente procura pelo mercado radioterápico. Entretanto, o número de profissionais não tem acompanhado”.
As quatro turmas já encerradas reuniram profissionais de diversos estados do país e foram realizadas nas Escolas Técnicas do SUS – Centro Formador de Pessoal para Saúde de São Paulo (Cefor-SP), em São Paulo (SP); Escola de Formação Técnica em Saúde Prof. Jorge Novis (EFTS-BA), em Salvador (BA); Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP-CE), em Fortaleza (CE); e Centro Formador de RH Caetano Munhoz da Rocha (Cefor-RH-PR), em Curitiba (PR). A Especialização é organizada em três eixos – Ciência, Saúde e Trabalho -, com carga horária de 900 horas. O corpo docente do curso foi formado por multiplicadores formados no Curso de Capacitação para a Formação de Multiplicadores de Técnicos Especializados em Radioterapia, realizada no Inca, entre o final de 2016 e o início de 2017, profissionais da EPSJV/Fiocruz, além de especialistas na área de Radioterapia. Além das ETSUS, também participam desse projeto de formação os hospitais Aristides Maltez (BA), Erasto Gaertner (PR), Santa Marcelina (SP), ICESP (SP) e Hospital das Clínicas de Porto Alegre (RS), que indicaram profissionais que fizeram o Curso de Multiplicadores para compor o corpo docente da Especialização. A previsão agora é que uma nova turma aconteça em Salvador (BA) em 2019.
FONTE: EPSJV/Fiocruz
http://www.epsjv.fiocruz.br