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Rio de Janeiro dá salto na área de transplantes e passa a contar com Centro Estadual para realização de cirurgias

A receita do sucesso: como o estado saiu de um resultado pior do que Cingapura para outro melhor que o Reino Unido em apenas dois anos

A árdua espera por um transplante de órgãos é uma realidade para mais de 23 mil brasileiros, dos quais cerca de 1.600 vivem no Rio de Janeiro. Ocupando a lanterna no país na área de doação de órgãos até 2010, o estado registrou nos últimos dois anos o maior avanço nacional, pulando para a atual 3º posição no ranking. O resultado é fruto de várias ações que tiveram início com a criação do Programa Estadual de Transplantes (PET). E a partir de fevereiro de 2013 mais um avanço: o Centro Estadual de Transplantes, funcionando no Hospital São Francisco de Assis, na Tijuca.


Antes contando apenas com unidades federais e conveniadas para realização de cirurgias de transplantes, o Governo do Estado resolveu criar um serviço próprio para dar conta da cada vez mais crescente quantidade de órgãos captados pelas equipes do PET. Para isso, as equipes de transplantes do Hospital Geral de Bonsucesso foram convidadas para assumir o serviço de fígado, rins – nesta primeira fase – e depois pâncreas no Hospital São Francisco de Assis. Em 2012, foram 221 doações de órgãos, quase o dobro do ano anterior. A meta para 2013 é superar 250 captações.

Receita do sucesso – Gestão, modernização, capacitação e comunicação. Estes foram os quatro pilares que mudaram o rumo e transformaram o Rio de Janeiro em exemplo para o Brasil. Empregada em vários países da Europa, a ferramenta de gestão Donor Action foi importada pelo PET para ser usada nos hospitais estaduais de emergência, com o objetivo de diagnosticar as falhas no processo de notificação de possíveis doadores e, a partir disso, foi desenvolvido um protocolo de procedimentos. O crescimento que a ferramenta trouxe na área de transplante em outros países foi o diferencial para implantá-la no estado. Um exemplo do sucesso da aplicação desta ferramenta é o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, premiado em setembro deste ano pelo Ministério da Saúde, pelo recorde na captação de órgãos. Sozinha, a unidade superou 11 estados brasileiros. Ainda este ano, o instituto de pós-graduação e pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD), em parceria com a SES, irá estudar a Donor Action, com objetivo de desenvolver uma ferramenta de gestão brasileira.  


O investimento em infraestrutura e a modernização de equipamentos também contribuíram para o avanço. Primeiro, foi criada uma sede para o PET, com objetivo de unificar a equipe e otimizar o trabalho. Uma parceria com o Governo do Estado permitiu que os helicópteros usados em ações da Defesa Civil e da Polícia Militar fossem aproveitados para o transporte de órgãos entre municípios. A agilidade no processo de transplante é um dos pontos fundamentais para o sucesso do trabalho. Um coração, por exemplo, precisa ser transplantado em 5 horas. Já para um fígado, o tempo máximo é de 12 horas. O estado também investiu na aquisição de cinco aparelhos de perfusão renal chamados LifePort Kidney Transporter, que melhora a condição de alguns rins específicos, que antes não poderiam ser utilizados para transplantes. Mais de 20 rins já tiveram suas condições melhoradas. Este investimento é especialmente importante porque rim é o órgão com maior demanda de transplantes no Brasil e no mundo. Rio de Janeiro e Ceará são pioneiros nos país na aquisição desta máquina. O valor investido nos aparelhos foi de R$ 1 milhão.  


A capacitação dos profissionais foi o passo seguinte. Em parceria com a Universidade de Barcelona, 150 pessoas passaram por um curso de capacitação em transplantes. O curso espanhol é considerado o melhor do mundo e o país é uma referência mundial na área e tem o maior número de doadores de órgãos por milhão de habitantes. Isso se deve ao investimento que o país fez na formação de coordenadores intra-hospitalares de transplantes, responsáveis por trabalhar no processo doação de órgãos dentro dos hospitais. O “modelo espanhol” já foi implementado em quatro unidades de saúde. A qualificação dos profissionais do Rio de Janeiro foi reconhecida pelo Ministério da Saúde, que solicitou vagas para que pessoas de outros estados participem do curso. Outra ação foi aumentar a remuneração dos profissionais e investir na melhoria das condições de trabalho. 


– Há pouco mais de dois anos, o paciente que precisava de transplante viajava para outros estados em busca de atendimento. A transformação que o Rio de Janeiro passou nesta área foi tão significativa que hoje isso não é mais uma realidade. Esta mudança não impacta apenas na vida dos moradores fluminenses, mas no país todo, pois os nossos avanços fizeram subir a média nacional de captação de órgãos. Em 2011, tivemos um crescimento de 50% no número de doadores em relação a 2010, chegando a 121. No início de 2012 traçamos uma meta ainda mais ousada de superar o crescimento do ano anterior e chegar a 200 doadores. Acabamos de superar este objetivo, dois meses antes do fim do ano e compatibilizamos neste momento 202 doadores. Este número é inédito na história do estado – afirma o secretário de Estado de Saúde, Sérgio Côrtes. 


A mudança na comunicação foi outro pilar para o avanço. Antes da criação do PET, o número de telefone para notificação de possíveis doadores por parte dos profissionais de saúde e esclarecimento de dúvidas da população era de difícil memorização e pouco conhecido. A mudança veio com a adoção do número 155, que passou a ser divulgado, em especial, nos hospitais de urgência e emergência, de onde saem as notificações dos casos. Houve também a otimização do serviço de atendimento telefônico. As ligações que são feitas pelos profissionais de saúde para informar possíveis doadores são imediatamente transferidas para o PET. Já as ligações para esclarecimento de dúvida são respondidas pelos funcionários da Central de Atendimento. Na pratica, isso evita que um médico que queira fazer uma notificação tenha que aguardar para ser atendido ou encontre a linha ocupada. Na outra ponta, esse fluxo faz com que a equipe do PET tenha acesso à informação sobre um possível doador de forma mais rápida. Em 2010, foi lançado o site http://www.transplante.rj.gov.br, com informações sobre o programa, explicação sobre o processo de doação de órgãos, dados sobre a fila de transplantes, informações voltadas aos profissionais de saúde e um canal para contato. 


– Segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o Rio de Janeiro triplicou a relação de doadores. Em uma medição feita por milhão de habitantes, o estado passou, em 2010, de 5,1 para 15, em 2012, número acima da média brasileira, atualmente em 12,8 doadores por milhão de habitantes. A importância deste recorde está nas centenas de vidas que foram salvas por meio dos transplantes realizados – explica o coordenador do PET, Rodrigo Sarlo.


Recomeço – O enfermeiro Marcos Antonio dos Santos, 31 anos, passou por dois transplantes de rim. No primeiro, em 1999, o órgão foi rejeitado e após um ano, ele precisou retornar às sessões de diálise três vezes por semana, 4 horas por dia. Em julho de 2011, Marcos passou pelo segundotransplante e hoje comemora a qualidade de vida reconquistada.


– Há 12 anos convivo com a realidade de quem aguarda por um transplante e percebo que hoje as informações são mais transparentes e os pacientes contam com uma assistência maior tanto na fase de pré-transplante até o pós-transplante. Ter recebido um rim me trouxe novamente a possibilidade de ter uma vida normal e feliz – conta Marcos, que hoje trabalha com pacientes que passam por transplante de coração em um hospital no município do Rio.


Um ato de amor ao próximo – Todo o processo que envolve transplante só é possível a partir da autorização da família para que seja realizada a doação de órgãos. Este ato de amor é ainda mais nobre porque acontece em um momento de profunda dor, quando se perde um ente querido. Os profissionais responsáveis por fazer contato com os familiares passam por constantes treinamentos para lidar com a situação. Mesmo assim, 50% das famílias de potenciais doadores se recusam a autorizar a doação. Na maioria das vezes, isso acontece em razão da desinformação sobre o tema por parte da população.


A recepcionista Andrea Candida da Silva, de 35 anos, esteve nos dois lados que envolvem a questão do transplante. Com aplasia de medula, sua filha de 18 anos passou um ano aguardando por um doador compatível de medula óssea que lhe possibilitasse recuperar a saúde. Em janeiro de 2012, a família foi informada sobre a localização do doador, mas antes do transplante, a jovem precisava passar por sessões de quimioterapia. Com a saúde muito debilitada, ela faleceu no mês em que faria o transplante. Antes disso, a jovem expressou o desejo de ser doadora de órgãos.


– Quando a equipe do PET veio conversar comigo sobre a possibilidade de doar os órgãos da minha filha, eu pensei em tudo o que passamos e que este gesto poderia salvar a vida de outras pessoas que, assim como a minha filha, aguardavam por um transplante. Apesar da dor que estava sentindo, isso confortou o meu coração – relata Andrea.

Os órgãos da jovem trouxeram de volta a saúde de três pessoas de aguardavam na fila portransplante.

FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro