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Saúde para o corpo, Educação para a alma

Pacientes internam-se no Instituto Estadual Ary Parreiras, em Niterói, para tratar de suas doenças; saem curados e alfabetizados. Aulas fazem parte do projeto Brasil Alfabetizado

Os educadores costumam dizer que quem ensina também aprende. Isso pode ser comprovado na prática por 25 pacientes internados em duas enfermarias do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP), em Niterói, que dividem seu tempo entre os cuidados com a saúde e os livros, vídeos e cadernos neste segundo semestre de 2013. Eles fazem parte das novas turmas do Programa Brasil Alfabetizado, que começaram suas atividades letivas no início de junho. Os pacientes foram divididos em duas turmas, que têm aulas pela manhã e à tarde, tanto em um dos refeitórios do instituto, transformado em sala de aula, quanto em uma sala de convivência de uma das enfermarias.

Os resultados – nesses quase dois meses de aulas – não demoram a aparecer. Aos 53 anos de idade, Jairo da Conceição Nazaré já aprendeu a escrever o próprio nome. Ele conta que chegou a frequentar a escola quando criança, mas que não conseguiu aprender:

“Eu não tinha muita cabeça para estudar, não aprendi, mas eu sempre quis escrever. Aqui, me ofereceram para participar das aulas e resolvi ir. Eu estou gostando muito e quero aprender a ler tudo. Perto da minha casa tem uma escola e, quando eu sair daqui, vou fazer a minha matrícula”, conta Jairo, enquanto faz questão de aproveitar uma folha de papel e caprichar na caligrafia para escrever o próprio nome e o de uma das professoras do curso, Tânia Maria Santos Bento.

Nas turmas deste ano, a média de idade dos alunos é de 40 anos. Muitos deles tiveram contato com as letras anteriormente, mas decidiram se inscrever no projeto para voltarem a estudar, reaprender o que já esqueceram ou participar das aulas para que a rotina dentro do hospital se torne mais atrativa. É o caso do pedreiro Hélio de Azevedo Alvão Filho, 50 anos, que chegou à 8ª série do Ensino Fundamental.

“É uma forma de o dia passar mais rápido e de rever o que aprendi. As aulas diminuíram minha ansiedade. O dia fica melhor e eu aguardo a hora do dever chegar. Isso dá um estímulo”, revelou.

Os alunos têm aulas todos os dias da semana. Nas segundas e nas sextas-feiras, são realizadas oficinas de vídeo e de texto. Após a apresentação de um filme ou de algum texto contemporâneo, os pacientes que participam do programa são incentivados a debater sobre o que viram e ouviram, ou sobre um tema específico. Nas terças, quartas e quintas-feiras, as aulas são de alfabetização e incluem Português, Matemática, História e atualidades. Ao final do curso, que tem seis meses de duração, o paciente recebe um certificado, que é válido como comprovante de escolaridade caso ele pretenda continuar seus estudos em uma escola formal.

Para o paciente Jorge Antônio da Conceição Dias, 32 anos, que estudou até a 6ª série do Ensino Fundamental, voltar a estudar significa partilhar conhecimento:

“O mais importante, para mim, é poder compartilhar com os meus amigos o que eu aprendi lá fora. E, com eles, eu aprendi a ter humildade”, afirmou, acrescentando que aparte de que mais gosta no projeto são as aulas de oficina de texto. “Estudar é importante porque abre outras formas de vida para você. Não é só o português, a matemática, o estudo ajuda a tomar decisões”, complementa.

A professora de Ensino Fundamental Patrícia de Oliveira Gonçalves Mata, que trabalha na área administrativa do IETAP e dá aulas nas oficinas de vídeo e texto explica que, como a classe é formada por alunos de diferentes níveis de escolaridade, há a necessidade de dosar o conteúdo divulgado, para atender a todos.

“Por isso, as aulas incluem atualidades, e também há conteúdos diferentes da alfabetização. Assim, atendemos a quem não é alfabetizado e também àqueles que quiseram voltar a estudar”, explicou.

A professora descreveu qual a maior emoção em participar do programa:

“É ver que eles compreendem a escrita e a leitura. É quando eles aprendem a escrever o próprio nome, quando identificam, por exemplo, o número de um ônibus. É gratificante quando vemos o progresso dessas pessoas, a transformação deles, que passam a se ver como cidadãos”, acrescentou. Mas, e o que a professora já aprendeu com seus alunos?. Ela revela: “Aprendi muita coisa com eles. O principal é que a gente tendo força de vontade, vai ao longe e supera as dificuldades. Passo isso para todos que conheço”.

Segundo a coordenadora do Comitê de Qualidade do Instituto, Fernanda Maria de Oliveira Guimarães Santos, a ideia de implantar o projeto surgiu a partir de uma pesquisa de satisfação feita com pacientes. O estudo apontou para um alto índice de desmotivação com o tratamento, gerado pela falta de atividades durante a internação. Ela acrescentou que quando o paciente não consegue comparecer ao refeitório, faz um trabalho individualizado no próprio leito. A implantação do Programa Brasil Alfabetizado no Instituto Ary Parreiras ocorreu no ano passado e foi uma iniciativa pioneira em unidades de saúde do Rio de Janeiro. No ano passado, 41 alunos passaram pelo projeto.

FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br