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Tecnologia nuclear ajuda a conhecer o passado remoto do Brasil

Junto com especialistas de mais seis instituições brasileiras, pesquisadores do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), unidades da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), participam de uma colaboração científica que, desde 1995, estuda cerâmicas antigas de povos indígenas.

Coordenado pelos professores Alfredo Bellido e Rose Latini, do Instituto de Química da Universidade Federal Fluminense (IQ/UFF), o grupo, que investiga o uso de aplicações nucleares para produzir classificações arqueológicas mais precisas, tem estudado peças coletadas na bacia do rio Purus, no Acre, e em Araruama, no estado do Rio de Janeiro, onde há sítios arqueológicos com abundância em vasos e fragmentos de cerâmica utilitária e funerária.

As técnicas de análise por ativação neutrônica, termoluminescência, radiografia, neutrongrafia, espectrografia Mössbauer e microtomografia por raios X, já utilizadas na pesquisa, permitem determinar a época de fabricação, a procedência geológica do material e os “temperos” na mistura de argila (areia, cascas de árvore, conchas etc). Permitem também reconstituir, a partir das características de manufatura e da composição física e mineral dos objetos, a trajetória desses grupos étnico-culturais.

Além do IQ/UFF e das unidades da CNEN, participam do grupo de estudos arqueométricos, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Laboratório de Instrumentação Nuclear da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LIN-COPPE/UFRJ). Os responsáveis pelos estudos arqueológicos são o Museu Nacional do Rio de Janeiro, a Fundação Municipal de Cultura Garibaldi Brasil (de Rio Branco, Acre) e o Instituto de Arqueologia Brasileira.

Os pesquisadores Maria Inês Silvani e Gevaldo de Almeida, que trabalham com o Reator Argonauta do IEN, vêm aperfeiçoando as técnicas de neutrongrafia e gamagrafia para obter melhor resolução das imagens obtidas e informações mais precisas sobre os métodos de fabricação das cerâmicas. Com os exames de imagem, é possível saber se a cerâmica foi moldada pelo método roletado (em camadas superpostas) ou paletado (massa homogênea), um dado importante para a classificação arqueológica.

Outro pesquisador do IEN, Ubirajara Vinagre, utilizou as técnicas de ativação neutrônica (realizada no reator do IPEN) e análise por ativação com partículas carregadas (feita no cíclotron CV-28 do IEN). Os métodos usados por ele permitiram identificar e quantificar a presença de 25 elementos químicos nas amostras, determinando a procedência geográfica e a classificação arqueológica das peças.

O próprio Vinagre já esteve envolvido no estudo das peças por termoluminescência no CBPF. Esse método permitiu a determinação da época em que foram manufaturadas as cerâmicas. Outros estudos de datação, também realizados no IEN, utilizaram as técnicas de difratometria e fluorescência de raios X.

Segundo Alfredo Bellido, comparado à classificação proposta pelos arqueólogos com base em métodos convencionais, o uso de diferentes técnicas nucleares aliadas pode fornecer informações bastante precisas sobre a classificação de peças arqueológicas.

FONTE: CNEN
http://www.cnen.gov.br