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Tuberculose: Rio concentra maior parte dos casos de pacientes resistentes à medicação

Em 2012, foram notificados 155 casos de multirresistentes em todo o estado, 58,7% na capital

b_800_600_0_00_images_stories_ASCOM_hospAriPareiras_hosp_ari_pareiras_-_festa_junina_31reduzidaNo Dia Estadual de Conscientização, Mobilização e Combate à tuberculose no Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Saúde ressalta a importância de se discutir, prevenir e tratar a doença. Estado que registra a maior incidência de tuberculose no Brasil, o Rio também concentra a maior parte dos casos em pacientes que apresentam resistência à medicação usada no tratamento. De 2009 a dezembro de 2012, 33 municípios fluminenses diagnosticaram 551 pacientes resistentes, sendo 331 ou 56,80% moradores da capital. De acordo com dados preliminares de 2012, foram notificados 155 casos de resistência aos principais medicamentos, em todo estado, 58,7% (91) na Cidade Maravilhosa.

— Em sua maioria, são pessoas que já abandonaram o tratamento mais de uma vez e, por isso, desenvolveram resistência à medicação. Esses casos preocupam porque, ao contrário dos demais, que depois de 15 dias medicados deixam de transmitir a doença, os resistentes podem continuar contaminando mesmo tomando os remédios, pois a resposta ao tratamento é mais demorada — diz a coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria de Estado de Saúde, a médica Ana Alice Pereira.

Abandono do tratamento – Dados preliminares revelam que o Estado do Rio registrou 14.039 casos de tuberculose em 2012 — em torno de 15% do total do país. A capital reúne 52,94% dos registros. Entre os 14.039 casos de tuberculose estado, 954 se referem a pacientes que retomaram o tratamento depois de abandoná-lo. A maior parte desses casos — 573 ou 60,06% — se encontra no município do Rio. Segundo a coordenadora do Programa de Tuberculose da Secretaria de Estado de Saúde, o abandono do tratamento é uma escolha arriscada.

— Depois de tomar os remédios por três meses, o paciente se sente melhor, acha que já está curado e interrompe o tratamento, que dura no mínimo seis meses. Essa atitude é perigosa porque muitos podem se tornar um paciente resistente aos diversos medicamentos. Para isso não acontecer, o médico e toda a equipe de saúde precisa acolher bem os doentes, informando acerca de todo o tratamento, a importância de sua duração, etc. É preciso lembrar que muita gente leva um susto quando recebe o diagnóstico de tuberculose, pois ainda existe muito preconceito e falta de informação acerca da doença, e pode nem voltar à unidade de saúde — explica Ana Alice.

Foi o caso de Marcele Assunção Barros, de 27 anos, que recebeu o diagnóstico de tuberculose no fim do ano passado. Diarista, Marcele mora com os três filhos — meninos de 7, 10 e 12 anos — em um abrigo no Barreto, em Niterói. Ela sentia dores nas costas, dificuldades para respirar e chegou a ser internada com pneumonia por dez dias em unidade de saúde do município. Ela nunca vai esquecer o dia em que recebeu o diagnóstico correto:

— Foi horrível, até pensei que fosse morrer. Como tinha medo de transmitir tuberculose para os meus filhos, eu queria me internar. Mas quando consegui já estava em estado grave — lembra a diarista.

Atendimento de referência – Marcele foi internada no Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP), em Niterói. A unidade de saúde é referência para internação e tratamento dos casos de tuberculose, co-infecção tuberculose-HIV e HIV. Em 2012, 215 pacientes foram internados no instituto. A unidade de saúde atende cerca de 20 casos de reinternação por ano. Já o ambulatório do IETAP, é especializado em pacientes resistentes à medicação e microbactérias atípicas, realizando em média de 84 consultas por mês no período de janeiro a abril de 2013.

O IETAP desenvolve um trabalho humanizado. Como o tratamento de tuberculose é longo e muitos pacientes permanecem internados por meses, o instituto promove uma série de atividades com os internos. No mês de junho, a equipe de terapia ocupacional da casa reuniu material para os pacientes prepararem os enfeites da festa junina da unidade de saúde, feita para eles mesmos.

Recentemente, o IETAP passou a contar com a ajuda de voluntários para oferecer serviços de manicure e corte de cabelo a pedido dos pacientes. Eles ainda podem participar do Programa Brasil Alfabetizado, de sessões de vídeo, de contação de histórias e também das atividades terapêuticas — como terapia de grupo e reabilitação para aqueles que sentem rigidez nas articulações causadas pela medicação.

— O objetivo é aproveitar o tempo ocioso dos pacientes para eles se sentirem mais motivados e com uma autoestima melhor. Isso ajuda no tratamento e resgata a cidadania dos nossos pacientes. Muitos ficam aqui por um longo período. Há pessoas que não têm para onde ir e se voltarem para as ruas interrompem o tratamento — explica a diretora geral da unidade de saúde, a médica pneumologista Eliene Denites Duarte Mesquita.

Dona de casa, Edilene Ferreira Boechat, de 52 anos, está internada há quatro meses no Ary Parreiras. No final de novembro do ano passado, ela recorreu a uma unidade municipal de saúde porque tossia muito, sentia febre no fim do dia e transpirava demais à noite. Com o passar do tempo, começou a perder peso e forças para trabalhar em casa — ela passa roupa, costura e faz a unha de suas clientes. Ao longo do tratamento, a paciente apresentou resistência aos remédios e desenvolveu hepatite medicamentosa. Foi descoberto ainda que Edilene, proveniente de uma família de doentes cardíacos, chegou a enfartar antes de ser internada no Ary Parreiras.

— As atividades ocupam o nosso tempo e a gente aproveita pra conversar sobre as nossas questões. Faz bem. Mas estou muito ansiosa para ir para casa. São sensações estranhas. As coisas estão acontecendo e eu quero participar — diz a paciente, que chegou ao IETAP pesando menos de 33 quilos.

Hospital Estadual Santa Maria – Além do IETAP, o Hospital Estadual Santa Maria, na Taquara (Zona Oeste do Rio), também é referência para tratamento e internação dos casos de tuberculose, tuberculose multirresistente e co-infecção tuberculose-HIV. Para transmitir informações sobre a doença, sobre o diagnóstico e tratamento, além de discutir formas de prevenção, a unidade de saúde promove, de 16 de agosto a 13 de setembro, o IX Curso de Atualização em Tuberculose.

Voltado para profissionais de nível médio e superior que atuam na rede de saúde pública, o curso de atualização se ampara nas disposições estabelecidas pelo Fundo Global TB/ Brasil, que busca reduzir a incidência, prevalência e mortalidade pela doença. Os interessados devem se inscrever até o dia 12 de agosto. O curso é gratuito e as aulas, um total de cinco encontros, ocorrem uma vez por semana, das 8h às 12h30. O hospital fica na Estrada do Rio Pequeno, 656, Taquara.

IX Encontro Comunitário de Tuberculose – Nesta terça-feira, dia 6 de agosto, a Secretaria de Estado de Saúde (SES/RJ) promove, em parceria com o Fórum Estadual das ONGs na Luta contra a Tuberculose RJ o IX Encontro Comunitário de Tuberculose. O objetivo é reunir experiências e refletir o atual cenário da doença no estado para fomentar o debate sobre os principais entraves e fortalecer as atividades de mobilização. O evento é gratuito e acontece no Hotel Novo mundo, no Flamengo, das 9h às 17h.

FONTE: Governo do Estado do Rio de Janeiro
http://www.saude.rj.gov.br