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Unicamp inicia campanha inédita de prevenção do câncer de intestino grosso

[7/2/2012] Em iniciativa inédita no país, a Unicamp abre nesta quarta-feira, 8, uma campanha de prevenção do câncer de intestino grosso, oferecendo o Teste de Pesquisa de Sangue Oculto nas Fezes para pessoas da comunidade com 50 anos de idade ou mais. Aproximadamente 6.000 funcionários docentes e não docentes e alunos encontram-se nessa faixa etária. Num piloto da campanha realizado no segundo semestre de 2011, o teste foi disponibilizado para 378 indivíduos de cinco unidades da Universidade. Dentre os 206 que aceitaram realizá-lo, 28 apresentaram resultado positivo (13%), com diagnóstico de pólipos (lesões) no intestino ou câncer em fase inicial.


O professor Cláudio Coy, coordenador do Gastrocentro da Unicamp, alerta que o câncer de intestino grosso (cólon e reto) é muito frequente nos dias atuais, surgindo como o segundo de maior incidência na mulher (depois da mama) e terceiro no homem (depois de próstata e pulmão). “Entretanto, não existe uma campanha de saúde pública voltada para a sua prevenção, tal como existe para os cânceres de mama e próstata, ou contra o tabagismo que afeta os pulmões”, lamenta o médico. “Essa campanha vai beneficiar nossa comunidade e pode servir como um piloto, por exemplo, para secretarias de saúde.”

O professor Roberto Teixeira Mendes, coordenador do Cecom, cuja equipe cuidou do planejamento da campanha, informa que o material para o teste será distribuído a partir de quarta-feira (e recolhido no dia 14), começando pela Reitoria, Pró-Reitorias, DGRH, Prefeitura, Secretaria Geral, AFPU, CGU e Gastrocentro, num cronograma que segue até novembro. “Dividimos o campus em ‘fatias’, cada uma tendo entre 400 e 500 pessoas acima dos 50 anos. A estratégia é procurar unidade por unidade para expor os propósitos do programa e informar sobre datas de coleta e do resultado do exame. O Gastrocentro já garantiu boa parte dos exames complementares, como a colonoscopia.”

Segundo Cláudio Coy, o câncer de intestino tem a característica de se desenvolver a partir de lesões benignas, os pólipos, cuja remoção implica uma efetiva prevenção contra o aparecimento da doença. “Ocorre que os pólipos têm crescimento lento e os sintomas são percebidos tardiamente, pegando de surpresa as pessoas que não estão informadas. Por isso, cada vez mais, vemos casos avançados”, explica, acrescentando que se trata do segundo tumor que mais leva ao óbito. “Mas o prognóstico é muito bom quando tratado em fase inicial, com a cura do indivíduo sem que sofra os efeitos de uma quimioterapia ou radioterapia.”

Dentre os 13% de resultados positivos registrados no piloto da campanha, 60% eram de lesões pequenas, mas com potencial para se transformar em câncer, e 40% de lesões avançadas – destes, dois indivíduos precisarão de tratamento cirúrgico, enquanto que nos demais o tratamento poderá ser feito através da colonoscopia. “Na fase assintomática do câncer de intestino, a sobrevida fica entre 80% e 90%. Já na fase sintomática, o índice cai para menos de 50%, sem esquecer que esses pacientes se submeteram a cirurgia, quimioterapia, radioterapia e precisarão de acompanhamento pelo resto da vida. Daí a importância do diagnóstico precoce”, reitera o coordenador do Gastrocentro.

Programa perene

Cláudio Coy ressalta que o programa não se restringe à mera distribuição de kits, prevendo orientações, exames, acompanhamento e tratamento de possíveis pacientes. “O propósito é oferecer uma cobertura completa, não é uma atividade para durar alguns meses: no ano seguinte voltaremos a fazer o mesmo e a expectativa é de que a adesão aumente com a continuidade. No piloto do programa, a adesão foi superior a 50%, que considero boa para uma primeira experiência. Prevalecendo este índice para o restante da Universidade, e também a positividade de 13%, devemos identificar mais de 200 casos. Assim como na prevenção contra o câncer de próstata, existe a questão do preconceito, mas diante do enorme benefício, não há por que não fazer o exame.”

Ainda de acordo com o especialista, há duas ou três décadas havia muito mais casos de câncer de estômago que de intestino, quadro que se inverteu por conta de hábitos adquiridos na vida moderna. “Fatores ambientais são responsáveis pelo aumento da incidência: tabagismo, ingestão de alimentos industrializados e pouca ingestão de fibras, carne vermelha, falta de atividade física, a correria que impede a pessoa de cozinhar e de almoçar em casa com a família. Em países europeus, onde esses testes são feitos regularmente, há uma redução altíssima da mortalidade por esse tipo de tumor. Já os Estados Unidos apresentam grande incidência e pagam um custo elevadíssimo pelo tratamento desses pacientes.”

Foco na saúde coletiva

À frente do Cecom desde setembro de 2009, Roberto Teixeira Mendes considera que outros resultados da campanha de prevenção ao câncer de intestino virão do trabalho de conscientização, como em relação a alimentação, ingestão de água e atividades físicas. “Um efeito positivo é a difusão da cultura do autocuidado, com a série de informações que o indivíduo vai receber. Já numa passagem anterior pelo Cecom, tive (e tenho) a impressão de um serviço de atendimento ainda muito focado na consulta, no caso a caso das procuras espontâneas, sem causar impacto real na saúde coletiva da Universidade – o que acredito ser a vocação maior de toda unidade básica de saúde.”

Nesse sentido, Teixeira Mendes vem priorizando em sua gestão a implantação de programas de promoção da saúde, prevenção de doenças e diagnóstico precoce, atingindo grupos da comunidade. “Já realizamos uma série de atividades, como de incentivo a exercícios físicos, mudança de hábitos alimentares, oferecimento de exames clínicos (colesterol, glicemia, toque retal), vacinação, tudo o que o Cecom tem condições de oferecer em termos de ação coletiva. Tudo é pensado com as unidades: elas apontam suas maiores preocupações, que são mediadas por parâmetros nossos (faixa etária, IMC, dados de saúde ocupacional), criando-se um menu de atividades.”


FONTE: UNICAMP